Tamboril: o peixe que se funde para acasalar

Felipe Miranda
Uma fêmea tamboril Photocorynus spiniceps com um macho grudado em suas costas. (Créditos da imagem: Theodore W. Pietsch/University of Washington)

Há diversas bizarrices na natureza, principalmente entre os peixes, já que o oceano é o local que menos conhecemos em todo o planeta. O tamboril, por exemplo, é um peixe que se funde para acasalar. 

O tamboril é um peixe que vive a cerca de 300 metros de profundidade, e pode ser encontrado em até 600 metros, nos oceanos. Há, no total, 168 espécies conhecidas de tamboril.

Não só é extremamente bizarro como ele pode ser resposta para um grande questionamento que nós, humanos, possuímos em relação a transplantes e órgãos estranhos em nosso corpo.

Em resumo, quando alguém possui um órgão transplantado, precisa ingerir remédios que deixam o sistema imune mais fraco. Quando há algo estranho dentro de nós, a tendência é que o corpo ataque-o, o que causaria a morte deste órgão recebido de alguém.

O ponto, em relação ao tamboril, é que o corpo do peixe não possui essa resposta imunológica quando é fundido com algum outro peixe para a realização do ato de acasalamento – e essa foi uma alternativa encontrada em sua evolução.

Como é essa “fusão”?

Evolutivamente, uma das únicas funções do tamboril macho é realizar essa fusão para a reprodução. Ele é bastante pequeno, em relação à fêmea, que pode possuir até cerca de 60 vezes o seu tamanho.

Ao localizar a fêmea, o macho morde sua barriga, e libera, por sua boca, algumas substâncias químicas que realizam uma verdadeira fusão, física mesmo, como se alguém tivesse aplicado cola, ou algum tipo de massa.

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Uma fêmea tamboril com um macho fundido à sua barriga. (Créditos da imagem: Edith A. Widder).

Com essa fusão, seu sangue e seus tecidos são misturados com o dela e, em um animal comum, isso geraria uma feroz resposta imunológica. Ali há um DNA estranho, e é exatamente a função de defesa que o sistema imune realiza. 

Esse estranho ritual de acasalamento – uma preliminar bastante peculiar -, é chamado de parasitismo sexual. É, muito provavelmente, um recurso de acasalamento exclusivo do tamboril.

Por que não há resposta imunológica?

Em um estudo recente, publicado na revista Science, um grupo de pesquisadores analisou o DNA de 31 espécimes que representavam 10 espécies de tamboril para descobrir como  o tamboril se funde para acasalar.

Eles descobriram que não há alguns genes-chave no sistema imunológico desse peixe, em comparação aos outros animais semelhantes. Essa falta é em uma área responsável pelo amadurecimento dos anticorpos, além da falta de “blocos” para a construção de receptores da célula T, uma das principais células imunes.

Isso foi causado por um “defeito” que surgiu entre os tamboris, que acabou sendo evolutivamente interessante e tornou-se a regra, entre as formas desta espécie conseguir se reproduzir.

Isso ocorreu porque muitos peixes da espécie nem conseguiram encontrar uma fêmea. Eles vivem em uma região onde a comida e a luz são escassas e, portanto, o número de indivíduos também é reduzido.

“Então, se eles se encontrarem, que melhor coisa a fazer do que morder, segurar e permanecer assim?”, explica ao NY Times Theodore Pietsch, principal autor do estudo, e pesquisador da Universidade de Washington.

Essa maravilha, ou bizarrice da natureza, pode ensinar aos cientistas, novas formas de se tratar de pessoas com órgãos transplantados, e melhorar a qualidade de vida deles. Ninguém gostaria de permanecer o resto da vida com medo de uma simples doença causar efeitos extremamente graves.

O estudo foi publicado na revista Science. Com informações de The New York Times e New Scientist.

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