Arqueólogos descobriram evidências de que haviam centenas de aldeias na floresta tropical longe dos principais rios, e elas eram o lar de diferentes comunidades que falavam idiomas variados e que exerciam impacto no ambiente ao seu redor.
Enormes partes da Amazônia ainda são inexploradas por arqueólogos, especialmente áreas longe dos principais rios. As pessoas haviam assumido que as comunidades antigas preferiam viver perto desses canais, mas novas evidências mostram que esse não era o caso.
A descoberta preenche uma lacuna importante na história da Amazônia, e fornece mais evidências de que a floresta tropical – que antes se pensava ser intocada pela agricultura ou ocupação humana – foi, na verdade, fortemente influenciada por aqueles que nela viviam.
Arqueólogos da Universidade de Exeter, na Inglaterra, encontraram restos de fortificações de aldeias e misteriosas escavações em geoglifos – valas feitas pelo homem com estranhas formas quadradas, circulares ou hexagonais. Especialistas ainda não sabem o propósito desses geoglifos, já que alguns não mostram evidências de terem sido ocupados. É possível que eles tenham sido usados como parte de rituais cerimoniais.
Os arqueólogos descobriram os resquícios no Mato Grosso. Ao analisar os restos de carvão e a cerâmica escavada, descobriram que um trecho de 1.800 km do sul da Amazônia era continuamente ocupado de 1250 a 1500 por pessoas que viviam em vilarejos fortificados. Os especialistas estimam que haveria entre 1.000 e 1.500 vilarejos restritos, e dois terços desses locais ainda não foram encontrados.
O novo estudo mostra que há cerca de 1.300 geoglifos em 400 mil quilômetros quadrados da Amazônia Meridional, com 81 encontrados apenas na área pesquisada. As aldeias são encontradas nas proximidades ou dentro dos geoglifos. Eles estão conectados por meio de uma rede de vias e algumas foram elaboradamente construídas ao longo anos.
A terraplanagem foi provavelmente feita durante as secas sazonais, o que permitiu que as florestas fossem desmatadas. As áreas mais secas ainda tinham solos férteis, onde os agricultores cultivavam e tinham árvores frutíferas como a castanha-do-pará.
O Dr. Jonas Gregorio de Souza, do Departamento de Arqueologia da Universidade de Exeter, membro da equipe, disse: “Há um equívoco comum de que a Amazônia é uma paisagem intocada, lar de comunidades nômades dispersas. Este não é o caso. Descobrimos que algumas populações longe dos grandes rios são muito maiores do que se pensava anteriormente, e essas pessoas tiveram um impacto no meio ambiente que ainda podemos encontrar hoje.
“A Amazônia é crucial para regular o clima da Terra, e saber mais sobre sua história ajudará todos a tomar decisões informadas sobre como ela deve ser cuidada no futuro.”
O professor José Iriarte, da Universidade de Exeter, outro membro da equipe, disse: “Estamos muito entusiasmados por termos encontrado tantas evidências. A maior parte da Amazônia ainda não foi escavada, mas estudos como o nosso significam que estamos gradualmente juntando mais e mais informações sobre a história da maior floresta tropical do planeta.
“Nossa pesquisa mostra que precisamos reavaliar a história da Amazônia. Certamente não era uma área habitada apenas perto das margens de grandes rios, e as pessoas que moravam ali afetavam a paisagem. A área que pesquisamos tinha uma população de dezenas de milhares”.