Abelhas “babás” esquentam a barriga para manter o ninho aquecido

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Algumas abelhas que cuidam da prole são capazes de produzir calor em seu tórax, contraindo a musculatura e armazenando gordura no abdome. Na imagem, operárias no ninho da espécie Melipona scutellaris, a uruçu-nordestina – Foto: Cícero R. C. Omena via Wikimedia Commons / CC BY 2.0

As abelhas desempenham várias funções bem conhecidas ao longo de seus 60 dias de existência. Elas coletam pólen, defendem a colmeia, produzem mel e atuam como cuidadoras da prole em desenvolvimento. O que ainda não se sabia é que algumas dessas babás – ou “enfermeiras”, como chamam os pesquisadores – têm uma característica diferente das outras: a capacidade de aumentar a temperatura do abdome.

A descoberta foi observada na comunidade de abelhas sem ferrão uruçu-nordestina, analisada pela bióloga Yara Roldão, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, durante sua pesquisa de doutorado sobre termorregulação.

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A pesquisadora observou que algumas das abelhas enfermeiras, que cuidam da prole dentro do ninho, são capazes de produzir calor em seu tórax contraindo a musculatura e armazenando gordura no abdome. Desta maneira, atingem uma temperatura até 4º C mais alta que as companheiras. Nesta fase, que acontece entre o décimo segundo e décimo quarto dia de vida, o seu trabalho é andar pelos favos de cria conferindo se as abelhas em desenvolvimento estão vivas. “É nessa época que ela apresenta o ovário mais desenvolvido e também é mais quentinha”, conta Yara.

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Enquanto operárias comuns possuem temperatura corporal de 31º C, as abelhas “enfermeiras” podem chegar até a 35°C.

Da acordo com a pesquisadora, o ninho é a região mais quente da colmeia, com uma temperatura que varia entre 28º e 30º C, para que a cria se desenvolva sem nenhum problema ou deformação. Yara conta que foi neste ambiente que a câmera infravermelho, utilizada para a realização da pesquisa, captou a atuação de três fontes de calor: o invólucro (camada de cera criada pelas abelhas, responsável por manter o favo aquecido), a própria cria, e as abelhas enfermeiras. “Essa câmera consegue captar calor desde a abelha até a colônia onde ela vive. Foi assim que nós percebemos que na área de cria havia algumas abelhas com corpos mais quentes do que as outras”, explica.

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Yara identificou que, enquanto as operárias comuns possuem temperatura corporal de 31º C, as enfermeiras podem chegar até a 35° C quando atuam na área de criação. Segundo a bióloga, até então não havia indícios dessa função entre as abelhas sem ferrão, pois essa peculiaridade não é algo que se possa concluir apenas observando sem equipamento. “Agora sabemos de onde vem e como é mantido o calor da área de criação, sabemos o porquê de essa região ser mais quente e como isso gera um bom resultado no desenvolvimento dos imaturos, que são as abelhas que ainda vão nascer.”

O professor Fábio Santos do Nascimento, orientador do trabalho, conta que o objetivo do estudo era avaliar como as abelhas sem ferrão respondem às modificações climáticas e se havia mecanismos que as ajudavam a manter estável a temperatura da colmeia. Afinal, diz ele, “vivemos num período em que as abelhas são constantemente afetadas, tanto em questão de modificações climáticas quanto na utilização de pesticidas no campo”.

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Para Nascimento, a pergunta agora é se essas regiões específicas da colmeia produzem indivíduos específicos. “Por exemplo, não sabemos como as abelhas rainhas são produzidas, pois ainda há pouca informação a respeito da biologia delas: desde a questão do forrageamento, da busca de néctar, do pólen, até a fisiologia dos indivíduos dentro da colmeia.” Segundo o cientista, porém, há grandes chances de que a característica descoberta seja essencial para a  sobrevivência. “Essa função nova pode ser fundamental para a biologia dessas espécies”, sugere.

pesquisa, desenvolvida no Laboratório de Comportamento e Ecologia de Insetos Sociais da FFCLRP, foi publicada pelo Journal of Economic Entomology da Oxford Academic Scientific no início deste ano.

Este artigo foi publicado originalmente em Jornal da USP, leia o artigo original aqui.

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