A completa desintegração do sistema solar pode ser mais rápida do que pensávamos

Felipe Miranda
Concepção artística de uma anã branca, o futuro do Sol. (NASA, ESA, STScI, and G. Bacon (STScI)).

Não se preocupe. Te garanto que você não verá. Isso ocorrerá muito depois da morte do próprio Sol. Em 5 bilhões de anos o Sol morrerá. Ele engolirá as órbitas de Mercúrio e Vênus, e tornará a Terra um inferno. Mas até aí a humanidade provavelmente se extinguirá ou já terá encontrado outro lar. Já abordamos a morte do Sol neste texto. Mas a completa desintegração do sistema solar é um pouco mais complicada.

5 bilhões de anos é o tempo de o Sol deixar de ser uma estrela do tipo G e se tornará anã branca. Isso ocorrerá porque o Sol consumirá todo o seu combustível, inchará e perderá quase toda sua massa, tornando-se uma pequena anã branca que brilha somente através do calor residual por bilhões e bilhões de anos. Então, ainda há vida após a morte.

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Comparação entre o Sol agora e quando expandir. (Oona Räisänen).

A  completa desintegração do sistema solar

Bom, já dando um spoiler: a completa desintegração do sistema solar levará muito mais tempo do que a idade do próprio universo. Levará cerca de 100 bilhões de anos para os planetas externos, como Júpiter e Saturno desaparecerem pelo espaço, deixando sozinho aquela bola quase apagada que já chamamos de Sol, conforme um novo estudo publicado no periódico The Astronomical Journal.

100 bilhões de anos é uma quantidade gigantesca de tempo – 7 vezes maior do que a idade do universo. No entanto, mesmo assim, ocorrerá muito antes do que pensávamos que ocorreria. 

“Compreender a estabilidade dinâmica de longo prazo do sistema solar constitui uma das atividades mais antigas da astrofísica, remontando ao próprio Newton, que especulou que as interações mútuas entre os planetas acabariam por tornar o sistema instável”, explicam os pesquisadores no artigo.

“É importante notar que a especulação sobre as instabilidades em grande escala dentro do sistema solar que são impulsionadas pela interação ressonante entre Júpiter e Saturno remonta ao trabalho de Newton, bem como ao desenvolvimento pioneiro da teoria de perturbação por Laplace”, dizem.

No entanto, embora uma área antiga, trata-se de uma tarefa bastante difícil entender a instabilidade do sistema. Quanto mais corpos, fica mais complexo e mais difícil de se calcular os parâmetros necessários. Quando ultrapassamos os 10 milhões de anos, lidamos apenas com o campo da probabilidade. As certezas, então, acabam completamente.

Final solitário

Em 1999, os pesquisadores teorizaram, em um estudo, que o sistema solar levaria aproximadamente um quintilhão de anos (1.000.000.000.000.000.000 anos) para se desintegrar completamente. Isso, portanto, supera em muito os 100 bilhões (100.000.000.000 anos) – tempo 10 milhões de vezes menor do que um quintilhão.

Mas a equipe de Jon Zink diz que esse estudo de 1999 não considerou alguns pontos importantes, como a presença do Sol e a aproximação de outras estrelas. Quando trata-se de escalas de tempo muito amplas, como esses muitos bilhões de anos, são diversos os fatores que acarretam na desestabilização do sistema. 

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Concepção artística de um planeta rebelde. (Interpott.nrw / Wikimedia Commons).

Inicialmente, Júpiter e Saturno se manterão estáveis. No entanto, após 30 bilhões de anos, devido a essa combinação de parâmetros, o sistema  se desestabilizará, tornando essas órbitas bastante caóticas. Então, nesse processo, todos os planetas escaparão do mórbido Sol, tornando-se os famosos planetas rebeldes. Estima-se que há bilhões de planetas rebeldes pairando pelo espaço sem uma estrela mãe.

Mas um planeta permanecerá fiel. Ele não escapará, e permanecerá em torno do Sol por mais 50 bilhões de anos. No entanto, em algum momento o espaço também o chamará, e ele vagará sozinho pelo escuro, deixando aquela mórbida bola quase apagada sozinha. Esse Sol que hoje permite a vida, e me possibilita escrever hoje esse texto terá um final completamente solitário.

O estudo foi publicado no periódico The Astronomical Journal.

Com informações de Science Alert e American Association for the Advancement of Science.

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