Em julho de 2018, pesquisadores observaram u evento raro: um filhote de chimpanzé albino nascera na Budongo Conservation Field Station, em Uganda. Contudo, poucos dias após o nascimento do filhote, os cientistas observaram um segundo evento raro. O filhote, assim, foi brutalmente morto por outros membros do bando.
O albinismo é uma característica rara em animais, sobretudo em mamíferos. Isso porque essa herança genética pode trazer problemas de adaptação, como maior risco de câncer por raios UV. Contudo, o relato da breve vida do chimpanzé albino acaba de mostrar uma reação social à condição genética do bicho, observada pela primeira vez nos primatas não-humanos.
Até a manhã do dia 19 de julho, o filhote e a mãe (chamada UP) tinham sido observados diversas vezes, por vezes com estranhamento de outros membros do grupo. Neste dia, contudo, a equipe teve sua atenção chamada por uma confusão de gritos dos chimpanzés. O macho alfa, junto com outros 10 macacos do grupo, atacaram o filhote de chimpanzé albino.
[Descrições violentas no parágrafo a seguir]
De acordo com os pesquisadores, o bicho teve um dos braços arrancados enquanto era carregado pelo macho alfa. Além do mais, os outros membros continuaram mordendo as pernas, mãos e dedos do filhote durante o ataque. Por fim, uma fêmea mordeu o crânio do pequeno chimpanzé albino, que cessou os gritos.
Reações inéditas dos macacos ao chimpanzé albino
Esse tipo de comportamento é extremamente raro em chimpanzés. Além do mais, de acordo com os autores, os animais emitiram gritos e sons durante o ataque que geralmente caracterizam a presença de um animal ou humano estranho no território.
Ainda mais inédito, os cientistas relatam, no periódico American Journal of Primatology, que os chimpanzés também interagiram com o cadáver do filhote albino. Assim, alguns macacos inspecionaram o corpo do filhote, mexendo e revolvendo o pelo do bicho. Além do mais, um dos animais inseriu um dedo na cavidade anal do filhote já morto.
Maël Leroux, autor principal da pesquisa afirma ao IFLScience: “Eu diria que o tempo gasto inspecionando o corpo, o número e diversidade de indivíduos inspecionando-o e parte do comportamento exibido – ‘acariciar’ as costas, apertar o pelo com os lábios no cadáver primeiro, e então em seus próprios corpos, ou a inserção de um dedo no ânus – são comportamentos realmente raros observados. Os comportamentos de ‘carícia’ e ‘aperto’ não foram observados previamente nesse contexto, até onde eu sei.”
Vale ressaltar que nem todos os macacos do bando reagiram de forma hostil em relação ao filhote. Alguns apenas observaram, enquanto outros acolheram-no como fariam com outros membros do bando.
O artigo da descoberta está disponível no periódico American Journal of Primatology.