Missão Dawn explora a evolução do interior de Ceres

Giovane Almeida
Imagem da superfície do planeta anão Ceres obtida pela nave Dawn da NASA. A imagem foi retirada de um vídeo mostrando um flyover simulado sobre Ceres feito pela equipe de câmeras da missão Dawin no Centro Nacional de Pesquisa Aeronáutica e Espacial da Alemanha (DLR). (Veja o vídeo: https://youtu.be/nJiw2NxqoBU) Crédito: NASA / JPL / UCLS / MPS / DLR / IDA

Publicado no Phys.org

As características da superfície de Ceres — o planeta anão localizado entre Marte e Júpiter — e sua evolução interior têm um relacionamento mais próximo do que se poderia pensar.

Um estudo recente, publicado na Geophysical Research Letters, analisou as características da superfície de Ceres buscando revelar pistas sobre a evolução interior do planeta anão. Especificamente, o estudo explorou características lineares — as cadeias de poços ou pit chains, como originalmente são conhecidas entre os pesquisadores da Dawn, e as pequenas crateras secundárias comuns em Ceres.

As descobertas se alinham com a ideia de que, há centenas de milhões (até um bilhão) de anos, materiais localizados embaixo da superfície de Ceres foram empurrados para cima, em direção à superfície, criando as fraturas na crosta do planeta anão.

“À medida que esse material se movia de baixo da superfície de Ceres para cima, partes da camada externa de Ceres foram separadas, formando as fraturas”, disse Jennifer Scully,  principal autora do estudo e cientista associada da equipe científica da Dawn no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, em Pasadena, Califórnia.

A indicação do material de ressurgência sob a superfície de Ceres permite uma outra perspectiva ao estabelecer como o planeta anão pode ter evoluído.

Esta imagem feita com dados da nave Dawn da NASA mostra cadeias de poços no planeta anão Ceres chamadas Samhain Catenae. Clique na imagem para ampliar. Crédito: NASA / JPL-Caltech / UCLA / MPS / DLR / IDA
Esta imagem feita com dados da nave Dawn da NASA mostra cadeias de poços no planeta anão Ceres chamadas Samhain Catenae. Clique na imagem para ampliar. Crédito: NASA / JPL-Caltech / UCLA / MPS / DLR / IDA

Procurando uma agulha em um palheiro

Os cientistas da missão Dawn fizeram um mapa com mais de 2.000 dessas características lineares que estão localizados fora das crateras de impactos em Ceres, com comprimento maior que um quilômetro. Os cientistas interpretaram as observações da Dawn de dois tipos de características lineares para melhor compreender a conexão dessas características com o material de ressurgência. As cadeias de crateras secundárias, a mais comum das características lineares, são sequências longas de depressões circulares criadas por fragmentos lançados fora das grandes crateras de impacto à medida que essas crateras foram se formando em Ceres. As cadeias de poços ou pit chains, por outro lado, são expressões superficiais de fraturas subterrâneas.

Entre as duas características, apenas as redes de poços fornecem informações sobre a evolução do interior de Ceres. Scully disse que o maior desafio do estudo foi diferenciar as cadeias de crateras secundárias das cadeias dos poços. Embora os recursos sejam surpreendentemente similares, os pesquisadores conseguiram diferenciá-los com base em detalhes de suas formas. Por exemplo, as crateras secundárias são comparativamente mais redondas do que as cadeias de poços, que são mais irregulares. Além disso, as cadeias de poços não possuem bordas levantadas, enquanto que geralmente há uma borda em torno das crateras secundárias.

Como esses elementos foram formados

Embora seja possível que o congelamento de um oceano subsuperficial global tenha formado as fraturas, esse cenário é improvável, já que as localizações das cadeias de poços não são uniformemente dispersas na superfície de Ceres. Também é improvável que as fraturas foram formadas por tensões de um grande impacto, porque não há evidências de impactos substancialmente relevantes para gerar fraturas dessa escala em Ceres. A explicação mais provável, de acordo com os cientistas da Dawn, é que uma região de material ascendente formou as cadeias de poços. O material pode ter fluido para a superfície de Ceres porque é menos denso do que os materiais circundantes.

Os cientistas da Dawn esperam ansiosamente poderem ver como essas características ajudarão outros pesquisadores a modelar a evolução do interior de Ceres, o que pode testar se aflorações podem ter ocorrido perto das fraturas.

Referências:

  1. SCULLY, Jennifer et al. Evidence for the Interior Evolution of Ceres from Geologic Analysis of Fractures. 2017, Geophysical Research Letters. Volume 44, Issue 19.16, October 2017, Pages 9564–9572. Disponível em http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/2017GL075086/full. Acesso em: 10 nov. 2017;
  2. WIDJAJA, Elyssia. Dawn Explores Ceres’ Interior Evolution. News JPL/NASA. Disponível em https://www.jpl.nasa.gov/news/news.php?feature=6997. Acesso em: 10 nov. 2017.
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