Peixe-palhaço pode ‘contar’ listras em outros peixes para identificar possíveis ameaças

Daniela Marinho
O peixe-palhaço comum tem três listras brancas, que eles “contam” para identificar outros membros de sua espécie como ameaças potenciais, sugere um novo estudo. Imagem: Canva

Retratado como um peixe super amigável em Procurando Nemo, da Pixar, o peixe-palhaço que vive em anêmonas-do-mar está, na verdade, entre os animais mais agressivos do planeta. Embora sejam fofos e coloridos – o que gera uma falsa ideia de amigabilidade – é sensato manter certa distância, visto que eles podem ser agressivos com humanos e até mesmo com peixes da sua própria espécie.

Desse modo, o peixe-palhaço comum (ocellaris) pode estar usando matemática básica para determinar se um peixe é inimigo ou não. Como pesquisas anteriores demonstraram, eles observam atentamente as características do peixe desconhecido.

Assim, caso não identifiquem as listras brancas verticais, típicas do peixe-palhaço comum, geralmente permitem que o novo peixe entre sem problemas. No entanto, se perceberem padrões semelhantes aos seus próprios, interpretarão isso como uma ameaça à sua residência e tomarão medidas para proteger seu território.

A questão levantada pelos cientistas agora é de que forma o peixe-palhaço reconhece indivíduos de sua espécie, tendo em vista a imensa diversidade e cor presente em seu habitat.

Experimento com peixe-palhaço

Publicado no Journal of Experimental Biology, o artigo apresenta uma nova pesquisa que sugeriu um comportamento curioso do peixe-palhaço, na medida em que ele não se limita a verificar se há listras em outros peixes, mas também as ‘conta’.

Para investigar mais a fundo, a equipe de pesquisadores criou um cardume de peixes-palhaço comuns – que têm três listras brancas verticais – de forma isolada, garantindo que eles nunca tinham visto nenhum peixe distinto de sua espécie.

Quando os peixes atingiram a idade de seis meses, os pesquisadores prepararam vários tanques equipados com câmeras para registrar as interações que ocorreriam dentro deles.

Inicialmente, eles colocaram 50 peixes-palhaço comuns em tanques separados e depois introduziram novos peixes-palhaço “recém-chegados”.

Além disso, incluíram peixes de outras três espécies: o peixe-palhaço gambá laranja, que é de cor laranja clara e possui uma única faixa branca que vai da cabeça até a nadadeira dorsal; o peixe anêmona de Clarke, que tem coloração preta e amarela com duas faixas verticais brancas; e o peixe-palhaço sela, que é preto e laranja e normalmente apresenta três manchas brancas verticais.

Maior agressividade com os iguais

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Os peixes-palhaço comuns eram mais agressivos com sua própria espécie e com a isca que mais se assemelhava à sua espécie. Imagem: Kina Hayashi

Os pesquisadores notaram que o comportamento agressivo, como perseguição ou mordida, era mais frequente entre os peixes-palhaço comuns quando interagiam com outros de sua própria espécie, enquanto demonstravam menos agressividade em relação ao peixe-palhaço gambá laranja, devido à sua faixa horizontal única.

Já os peixes-palhaço Clarke e sela foram alvos de uma agressão mais branda. Esses resultados indicam que os peixes-palhaço comuns são capazes de reconhecer e reagir com mais agressividade em relação aos membros iguais.

Intensidade da agressão

Na sequência, os pesquisadores conduziram experimentos nos quais apresentaram pequenos grupos de três peixes-palhaço a diversas iscas feitas de resina, cada uma pintada com zero, uma, duas ou três listras. Eles descobriram que o número de listras na isca desempenhava um papel significativo na intensidade da agressão por parte dos peixes-palhaço.

Os resultados revelaram que os peixes-palhaço atacavam as iscas com três listras com uma frequência dez vezes maior do que aquelas sem listras, duas vezes mais frequentemente do que as com uma única listra e 1,3 vezes mais frequentemente do que as com duas listras.

Kina Hayashi, ecologista do Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa, no Japão, e principal autora do estudo, afirma que “Talvez existam outros fatores além das linhas verticais brancas que são importantes na discriminação das mesmas espécies […] Mas esta experiência pelo menos sugeriu que o número de linhas verticais brancas é importante para discriminar a mesma espécie e decidir se atacar ou não.”

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