Com grande frequência somos instruídos a borrifar água em nossas plantas tropicais para que elas prosperem. Mas isso é de fato eficaz?
Borrifar água nas plantas domésticas, como samambaias e plantas carnívoras, é comumente aceito como uma necessidade para proteger essas espécies que se desenvolvem na umidade da floresta tropical, contra o ar seco e correntes de ar presentes em casas normais.
Não existe comprovação científica
Há uma grande quantidade de cultivadores entusiastas que defendem a prática de borrifar água em suas plantas para aumentar a umidade e promover o crescimento exuberante de espécies como samambaias ou filodendros. Eles sustentam que isso reproduz as condições naturais dessas plantas, contribuindo para sua saúde geral.
Por outro lado, há um grupo distinto de aficionados e profissionais que desconsideram essa prática, argumentando que tais borrifadas ocasionais de água não fazem diferença significativa na umidade ambiental que cerca as plantas. Além disso, eles alertam que tal prática pode até aumentar a suscetibilidade das plantas a infestações de pragas e doenças.
A verdade é que esta abordagem é amplamente divulgada e mencionada na maioria dos livros de jardinagem de interiores do século passado, mas ela parece nunca ter sido questionada: não existem estudos ou provas de sua eficácia.
Testando a eficácia
A aparente falta de qualquer estudo neste contexto na literatura científica publicada motivou o botânico James Wong a conduzir a sua própria investigação.
A recomendação tradicional é borrifar água nas suas plantas de uma a três vezes por semana. No entanto, considerando que um borrifo médio contém apenas 1 mililitro de água, sempre duvide que 1 a 3 ml de umidade semanalmente pode causar um impacto significativo.
James adquiriu alguns medidores de umidade e começou a experimentar, cronometrar e documentar os resultados.
O botânico revelou que uma nebulização generosa foi de fato capaz de aumentar a umidade do ambiente, mas somente por um período de tempo muito curto. Os níveis de umidade ao redor de algumas plantas em sua sala de estar subiram imediatamente de 50 para 70 por cento – isso era o ideal para algumas de suas plantas.
No entanto, James também relatou que após cerca de 30 minutos, a umidade retornou ao nível inicial. Apenas 10 minutos após a nebulização, quase metade do benefício já havia desaparecido. Em um ambiente mais seco, como o quarto (35% de umidade), uma reprodução do teste mostrou resultados semelhantes, com o retorno ao nível inicial ocorrendo em menos de 20 minutos.
Apesar de ter repetido os testes para garantir a consistência dos resultados, os resultados variaram enormemente dependendo de fatores como tamanho da sala, ventilação e temperatura.
No entanto James informa que, sua experiencia sugere que não seria suficiente nebulizar três vezes por semana, mas sim cerca de três vezes por hora para produzir algum efeito significativo.
Ele notou também que as plantas que conseguiram manter a alta umidade por mais tempo foram as que eram cultivadas em terrários, cujo as paredes de vidro retêm umidade, ou as que estavam agrupadas em bandejas de pedras com água, que evaporam continuamente mantendo a umidade durante alguns dias.
Outras opiniões
Mas será que todos os especialistas em horticultura concordam?
Alistair Griffiths, diretor de ciência e coleções da Royal Horticultural Society, afirma:
“Há muitas influências ambientais externas criadas pelo cultivo de uma planta em um ambiente interno, que são muito prováveis de anular quaisquer melhorias na umidade ao redor de suas plantas domésticas, borrifando-as com água algumas vezes por semana.”
Rogier Van Vugt, chefe de horticultura do Jardim Botânico da Universidade de Leiden, na Holanda, sugere que os jardineiros de interior “deveriam simplesmente escolher plantas que necessitem de menor umidade, em vez de correrem o risco constante de danificar seus livros e papel de parede.”
Os horticultores são conhecidos por serem diretos em suas declarações.