Sistemas auditivos e a dinâmica do som em cobras são tópicos frequentemente debatidos na comunidade científica. Recentemente, pesquisadores brasileiros fizeram o primeiro registro de uma vocalização da cobra sul-americana, Dipsas catesbyi.
O som foi gravado oportunisticamente durante um breve manuseio da cobra em uma floresta secundária do município de Presidente Figueiredo, no estado do Amazonas.
Durante o manuseio para medição, a cobra exibiu movimentos típicos de enroscar-se e esconder a cabeça.
Os pesquisadores começaram a estimular essa exibição tocando suavemente no indivíduo até que ele se desenrolou e ficou suspenso na mão do pesquisador. Após alguns segundos, a cobra emitiu um som curto e agudo.
A gravação do comportamento foi feita com um smartphone e posteriormente analisada. A vocalização teve duração de 0,06 segundos, atingindo 3036 Hz em sua frequência de pico, com um alcance de 2761 a 4152 Hz em sua emissão principal.
A estrutura harmônica da vocalização parece relacionada às bandas de energia, sugerindo que a emissão vocal pode estar relacionada às estruturas laríngeas, como observado em outras espécies de cobras.
Apesar disso, não há estudos que detalhem a estrutura da laringe em Dipsas catesbyi ou em outras espécies do mesmo gênero.
Como a vocalização só ocorreu após o manuseio do indivíduo (que simularia a captura por um predador), os pesquisadores categorizaram-na como defensiva.
A descoberta é significativa pois contribui para futuras discussões sobre a evolução da vocalização em Squamata (grupo de répteis que inclui lagartos e serpentes) e suas funções ecológicas.
Os pesquisadores acreditam que as cobras podem ter herdado a capacidade de vocalizar dos lagartos, seus ancestrais. Contudo, vocalizar parece ser um desafio para essas criaturas, uma vez que carecem de cordas vocais desenvolvidas.
Essa característica raramente vem à tona devido à preferência das cobras por comportamentos defensivos passivos. Esses comportamentos, mais do que a vocalização, ajudam-nas a economizar energia.
A pesquisa foi financiada em parte pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).