A crosta terrestre é bastante profunda para nós, meros mortais. Com uma média de 40 km de profundidade nos continentes, a crosta é a camada mais externa da Terra. Entretanto, é apenas uma fina camada do planeta. Se a Terra fosse uma maçã, a crosta seria a casca da fruta. O manto, por sua vez, é a camada de maior volume da Terra, e liga o núcleo à crosta.
E bom, um novo anúncio realizado por cientistas tem animado pesquisadores de todas áreas, principalmente das geociências em todo o mundo: pela primeira vez, pesquisadores conseguiram pegar amostras do manto da Terra. O calor no manto é o que mantém a Terra viva, e origina boa parte das atividades geológicas da Terra – desde as movimentações das placas tectônicas, até atividades vulcânicas e formações de cordilheiras e montanhas.
Amostras do manto
Para isso, os pesquisadores não precisaram cavar o buraco mais profundo do mundo: eles cavaram apenas 1267 metros (há buracos com mais de 12 km de profundidade). O buraco foi realizado em uma montanha chamada Maciço Atlantis, que fica localizada nas profundezas do norte do oceano Atlântico, na cordilheira mesoatlântica.
No entanto, embora os pesquisadores tenham extraído amostras do manto da Terra, eles não chegaram ao manto. Os pesquisadores, utilizaram um hack. Eles aproveitaram, na verdade, uma janela tectônica – um local onde rochas do manto são empurradas para cima.
“Estamos entrando agora na semana 6 da Expedição 399. Temos uma quantidade impressionante e recorde de rochas do manto serpentinita subindo do buraco U1601C”, diz a Oficial de Comunicação Sarah Treadwell em um post no blog em que a equipe atualiza o mundo sobre a missão à bordo do navio JOIDES Resolution (JR).
“Na Terra, a rocha do manto é normalmente extremamente difícil de acessar. O Maciço Atlantis oferece uma rara vantagem para ter acesso a ele, pois é composto por rochas do manto que foram trazidas para mais perto da superfície através do processo de propagação ultralenta do fundo do mar”, diz.
Até podemos acessar pedaços no manto em terra firme. Durante erupções vulcânicas, alguns pedaços rochosos do manto da Terra podem ser cuspidos para fora. No entanto, eles são agredidos pela atividade vulcânica, e contaminados pelas reações ao entrar em contato com a atmosfera e atividades climáticas. Por isso, recolher amostras intocadas é importante para a ciência.
“Isso permite à Resolução JOIDES a oportunidade única de perfurar e trazer à tona essa rocha do manto que não foi alterada pelo intemperismo na superfície, permitindo que os cientistas nos forneçam novas percepções sobre a composição e a estrutura do manto, bem como os processos que ocorrem dentro dele”, explica Treadwell no blog da equipe.
Projeto Mohole e acesso ao manto da Terra
Na década de 1960, o Projeto Mohole, tentou chegar ao manto da Terra, mas foi cancelado devido aos altos custos. O projeto chegou a iniciar a perfuração, mas perfurou menos de 200 metros de profundidade, também no oceano Atlântico, onde a crosta terrestre é mais fina.
Agora, em 2023, finalmente houve sucesso em outra missão com o mesmo intuito: acessar amostras do manto terrestre. A equipe trabalhou exaustivamente: revezando em turnos de 12 horas, para que houvesse um monitoramento constante. Além disso, a cada 50 horas, era necessário realizar a troca das brocas. Perfurar a Terra não é nada fácil.
Quase a totalidade da amostra é composta por peridotito, uma rocha ígnea, ou seja, formada a partir do magma arrefecido. Peridotitos são o principal componente do manto superior da Terra. Mas há dúvidas se toda a composição do manto superior da Terra é realmente parecida com a das amostras recolhidas. Isso poderia ser respondido futuramente, com possíveis novas amostras mais profundas.