Arquearia pode ter chegado na Europa milhares de anos antes do que pensávamos

Dominic Albuquerque
Co-autora do estudo Laure Metz com uma das réplicas. Imagem: Ludovic Slimak

Uma caverna no sul da França revelou as primeiras evidências da arquearia — uso do arco e flecha — na Europa por humanos modernos, há 54 mil anos, muito antes do que estimávamos.

A pesquisa, publicada na revista Science Advances, antecipa a idade da arquearia na Europa em mais de 40 mil anos. Antes disso, a evidência mais antiga foi a descoberta de arcos e flechas em turfeiras no norte da Europa, com 10 a 12 mil anos de idade.

Na África, o uso do arco e flecha data em 70 mil anos, por sua vez.

A nova pesquisa foi feita na caverna rochoso de Mandrin, no sul da França. O sítio arqueológico Grotte Mandrin, cuja primeira escavação ocorreu em 1990, inclui diversas camadas de restos arqueológicos que vão até 80 mil anos no passado.

Os pesquisadores que conduziram o estudo já tinham documentado que os neandertais e seus “primos” modernos — o Homo sapiens — alternaram o uso da caverna.

Num dos níveis, a “Camada E”, atribuiu-se a presença do Homo sapiens há 54 mil anos, e está interposta em camadas de diversas ocupações de neandertais.

Os pesquisadores realizaram uma análise funcional de artefatos de sílex encontrados na Camada E que estavam mais elaborados que as pontas e lâminas encontradas em níveis acima e abaixo. Pequenos restos de sílex foram chave na pesquisa, pois outros elementos de arquearia como fibras, couro, resinas e madeiras são perecíveis, e raramente são preservados em sítios paleolíticos europeus.

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Os arqueólogos encontraram centenas de pequenas pontas que os humanos modernos possivelmente usaram como pontas de flecha. Imagem: Laure Metz / Ludovic Slimak

A arquearia da pré-história

No estudo, os pesquisadores reproduziram as pontas de sílex encontradas na caverna e as atiraram como pontas de flechas em animais mortos usando a réplica de um arco.

De acordo com a coautora Laure Metz, da Universidade de Aix Marseille, a única maneira de usar os objetos de forma eficiente era com o arco. As fraturas nas pontas foram comparadas com marcas encontradas nos artefatos presentes na caverna, provando que de fato elas foram usadas como pontas de flecha, disseram os pesquisadores.

Grande parte das fraturas eram fraturas de impacto, e encontravam-se na extremidade das pontas. Metz disse que as evidências sugerem que os neandertais e o Homo sapiens que usaram a caverna se encontraram em algum momento, ainda que não se saiba se o encontro foi amigável ou não.

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As pontas encontradas em Grotte Mandrin foram reproduzidas usando o mesmo sílex e replicadas com as mesmas tecnologias durante o estudo. Imagem: Ludovic Slimak/EUREKALERT!/AFP

Os neandertais que habitaram em Mandrin continuaram a usar armas tradicionais, contudo, sem lanças ou outras ferramentas com algum mecanismo de propulsão – o que dava vantagem tecnológica ao Homo sapiens, especialmente durante sua expansão no continente europeu, segundo os pesquisadores.

Metz ainda contou que os habitantes da caverna tipicamente caçavam cavalos, bisões e veados, com ossos animais tendo sido encontrados no interior da estrutura.

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