Revelado o mistério da múmia de macaco-sereia no Japão

Dominic Albuquerque
Imagem: UCAK

Uma análise profunda finalmente revelou o que está por trás da múmia de um “macaco-sereia” abrigado no Templo Enju-in no Japão.

O artefato peculiar foi alvo da curiosidade científica por décadas, e uma nota que acompanhava objeto indica que suas origens oceânicas datam em séculos.

O suposto animal tem 30 centímetros de comprimento, e consiste de um torso peludo de primata e o que aparenta ser uma cauda escamosa de peixe, com duas mãos quase humanas numa postura estranha. A criatura ainda possui dentes finos e afiados.

Na mitologia japonesa, retalhos com partes humanas e de peixe são referidas como ningyo – criaturas aquáticas não tão charmosas como as sereias ocidentais, mas tão simbólicas e populares quanto.

No interior da caixa de madeira onde foi encontrado, uma nota escrita a mão sugere que o objeto foi apanhado na costa da cidade de Kochi em torno de 1740.

Desde fevereiro de 2022 os cientistas da Universidade de Ciências e Artes de Kurashiki (UCAK) tem trabalhado com o templo em busca de descobrir o que esta criatura poderia ser.

A origem do macaco-sereia do Japão

Agora finalmente sabemos que o macaco-sereia não é um animal, e sim um trabalho feito por mãos humanas.

É possível encontrar diversos ningyo mumificados pelo Japão, muitos sob posse de templos e museus, a maioria datando do Período Edo (1603-1868). Como nada do tipo foi encontrado vivo até então, a origem dessas criaturas é um mistério.

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Digitalização do artefato, que não tinha esqueleto exceto o maxilar. Imagem: UCAK

Para investigar o objeto, a equipe da UCAK trabalhou com o templo para examinar o artefato de maneira não destrutiva. O exame incluiu uma avaliação visual, imagens de raios-X, imagens de tomografia computadorizada de raios-X, microscopia óptica e eletrônica, análise de raios-X fluorescentes, análise de DNA e datação por radiocarbono.

O mais surpreendente é que, com exceção da mandíbula, o ningyo não tinha nenhuma estrutura esquelética. Os exames revelaram que o objeto é uma colcha de retalhos feita com materiais diferentes.

Não há nenhuma madeira no macaco-sereia, que é feito principalmente de pano, algodão e papel, mergulhado numa substância feita misturando pó de carvão de areia com uma pasta. A cabeça é feita principalmente de algodão, e mergulhada numa substância semelhante a gesso.

O cabelo na cabeça é de pelo animal, e as escamas vêm de dois tipos de peixe. A parte superior do corpo é coberta em pele de baiacu, e a parte inferior com pele de uma espécie de corvina. As unhas nos cinco dedos são queratina animal, possivelmente feitas com algum tipo de chifre. O maxilar foi feito com algum peixe carnívoro.

Enquanto isso, a datação por radiocarbono de algumas das escamas desmente a nota manuscrita na caixa da criatura, sugerindo que ela foi fabricada mais de um século depois.

Não se sabe ainda como o macaco-sereia foi parar no Templo Enju-in. Ainda que sua construção tenha sido revelada, ele continua sendo um importante artefato do seu período, e irá retornar para o templo, onde será mantido sob os cuidados dos sacerdotes.

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