Imagine que você está andando pelas margens do Lago Baical, na Sibéria. Você joga uma pedra na superfície congelada e vai embora. No dia seguinte, a mesma pedra está sobre um pequeno de pedestal de gelo, equilibrada como as pedras Zen da cultura japonesa.
Curiosamente, cientistas acabam de publicar uma pesquisa inteira sobre o suposto mistério das pedras zen da Sibéria. A pesquisa publicada no periódico PNAS mostra que o fenômeno ocorre devido à sublimação do gelo. Hipóteses anteriores supunham que a formação dos pedestais ocorria pelo derretimento da superfície, o que não se mostrou verdadeiro na pesquisa.
Sublimação é o processo de transformação do estado sólido diretamente para o gasoso. Ou seja, o gelo (estado sólido) se converte diretamente em vapor (estado gasoso), sem derreter ao estado líquido.
Naturalmente, a sublimação ocorre em ambientes muito específicos. Para que o fenômeno ocorra, a temperatura precisa ficar abaixo de zero, e não pode haver neve sobre a superfície do gelo, ao menos por algumas semanas. Acontece que o Lago Baical possui tanto temperaturas abaixo de zero quanto uma baixíssima precipitação e umidade relativa do ar.
Essas duas condições permitem, naturalmente, que o gelo da superfície do lago sublime sob a luz do sol. Embaixo da pedra, contudo, o gelo fica protegido da luz e, consequentemente, recebe menos energia. Essa entrada menor de energia evita a sublimação na região abaixo da pedra. Isso cria, portanto, um pedestal de gelo onde há menos incidência de luz.
Ou seja, o gelo não derrete próximo à pedra, mas sim a superfície toda sublima e fica mais baixa, com exceção do pedestal das pedras zen.
Contudo, o fenômeno é bastante raro e passageiro, uma vez que eventualmente o calor do sol atinge o pedestal de gelo, que acaba por sublimar também e a pedra volta a estar sob a superfície – como se nada tivesse acontecido.
O que as pedras zen têm a ver com a NASA
O projeto Europa Lander, da NASA, ainda não confirmado, procura buscar amostras e talvez resquícios orgânicos na superfície do lua Europa, um dos 79 satélites de Júpiter.
Acontece que a Lua é recoberta por gelo, com condições parcialmente parecidas com o lago na Sibéria. De acordo com a pesquisa, o estudo do fenômeno pode evitar problemas sérios e caros na hora de pousar sondas em Europa. Uma sonda de milhões de dólares presa em um pedestal de gelo, afinal, não é um cenário muito animador.