Em janeiro de 1749, um navio cargueiro chamado Amsterdam desapareceu no Canal da Mancha em um dia frio e chuvoso. No mesmo ano em que o homem pisava na Lua, em 1969, mais de 200 anos depois do naufrágio, ele foi encontrado por pesquisadores em um inacreditável estado de conservação. Conheça hoje a incrível história do belíssimo cargueiro naufragado há dois séculos.
Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC)
O navio foi construído especialmente para a Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC). A empresa, que foi fundada em 1602, tornou-se, após algum tempo, uma enorme potência econômica e militar no mundo. Sim, uma empresa como uma potência militar. Ela não funcionava de maneira muito diferente de um Estado, embora fosse uma empresa, e possuía um monopólio garantido pelo governo holandês.
O surgimento da VOC ocorreu em um contexto de independência. Após conquistar a independência dos Países Baixos, que eram dominados pela Espanha, os holandeses não queriam depender de outras potências, e resolveram eles mesmos entrar no mercado de importação de itens (tecidos, especiarias, objetos diversos) da Ásia.
Com uma história não muito decente (pois também explorava povos que os europeus consideravam “inferiores”, comércio de escravos), a VOC é a empresa mais valiosa da história. Ela valeu o que hoje são mais de 8 trilhões de dólares – o valor somado de algumas das 20 mais importantes empresas que existem nos dias atuais.
Em meados dos anos 1630, a VOC, sediada em Amsterdã, detinha mais de 150 navios mercantes, 40 navios militares, 50 mil funcionários e um exército privado de 10 mil soldados.
O rápido fim do cargueiro Amsterdam
Amsterdam, um grande e belo cargueiro pertencente à VOC, tinha uma missão parecida com o de outros diversos navios da companhia: a importação de especiarias, tecidos, ferramentas e outros itens da Ásia que poderiam ser comercializados na Europa.
Segundo o Ancient Origins, cada viagem feita pelo cargueiro levaria em torno de oito meses. Dessa maneira, o navio deveria ter espaço para o dia a dia dos mais de 300 marinheiros e para o estoque dos mantimentos e ferramentas, além da área para carregar as cargas em transporte.
No início de 1749, o navio partia de seu estaleiro, na ilha de Texel, Holanda, rumo à Batávia, nas Índias Orientais. As Índias Orientais eram a atual Indonésia, e Batávia é a atual Jacarta, que era e ainda é capital do país.
O navio partia com 335 pessoas à bordo, das quais 203 eram tripulantes, 127 soldados e 5 passageiros. Além disso, como carga, ele possuía algo que valeria muitos milhões nos dias de hoje: 27 baús de moedas de ouro e prata, produtos têxteis, canhões, cachimbos, papel, entre outros diversos bens. Obviamente, eles possuem valor histórico, então esses itens possuem valores consideráveis inestimáveis.
Em 26 de janeiro de 1749, o navio atravessava as águas do Canal da Mancha – um canal que fica entre a Europa continental e o Reino Unido. Uma grande tempestade atingiu o navio, que cedeu à luta e acabou por ser soterrado sob a areia e lama na baía de Bulverhythe.
O navio cargueiro da VOC ficou escondido por um bom tempo. Dois séculos após o naufrágio, em 1969, pesquisadores encontraram a embarcação. Até o momento, é o navio da companhia mais bem preservado já encontrado. Ele fica em um local protegido na Inglaterra, onde são encontrados diversos itens datados da Idade do Bronze.
A organização VOC Ship Amsterdam Foundation trabalha na localização e proteção dos naufrágios da VOC, e foi ela quem ajudou os cientistas nas escavações entre 1984 e 1986.
A lama que cerca o navio o protege de saqueadores e da degradação natural da embarcação, que segue em ótimo estado de conservação. Algumas moedas e 2,5 toneladas de barras de prata, mas boa parte de sua carga segue à bordo do navio, que nunca realizou a entrega.
Uma réplica do navio foi construída e atracou ao porto em que chegaria o cargueiro original – um frete de dois séculos. Hoje, a réplica fica atracada ao Museu Marítimo da Holanda e faz parte de uma exposição sobre o navio original.