Existem algumas pesquisas indicando que os sistemas que mantêm as transações de bitcoin de pé são prejudiciais ao meio ambiente. Mas até onde isso é verdade, e até onde vai o prejuízo?
Foi o economista Alex de Vries quem trouxe atenção para o assunto — e que recebeu diversas críticas dos entusiastas da moeda eletrônica. Suas pesquisas e apontamentos são publicados no site Digiconomist, onde é possível acompanhar diferentes dados.
Ao decidir investigar o impacto ambiental do bitcoin, de Vries se surpreendeu ao concluir em sua pesquisa que a moeda tem uma pegada de carbono do tamanho da República Tcheca, consome a mesma quantidade de energia elétrica que a Tailândia e produz 32,27 quilotoneladas de lixo eletrônico por ano, que é quase a mesma quantidade gerada por resíduos pequenos de TI na Holanda.
O quanto de eletricidade o bitcoin consome?
O bitcoin usa muita eletricidade, a maior parte sendo quando um novo bloco da blockchain é criado.
Cada bloco inclui um registro de todas as transações novas e históricas feitas no blockchain do bitcoin. O processo de produção desses blocos é chamado de mineração. Um novo bloco é criado a cada 10 minutos ou mais. Isso acontece quando coleções de computadores resolvem quebra-cabeças complexos. Essas coleções de computadores são chamadas de nós ou mineradores.
É esse processo de mineração que forma a natureza descentralizada do bitcoin, pois ninguém é responsável pela criação e manutenção da rede. Ao invés disso, ela funciona sob um modelo consensual onde cada nó é aceito pelo restante dos mineradores (após ser aceito, o processo recomeça, com novos nós sendo criados).
O processo também protege a rede de ataques, e é onde há o maior uso de eletricidade. Segundo de Vries, o uso anual de eletricidade é de 204.50 terawatts por hora (TW/h). Na Universidade de Cambridge, o Índice de Consumo de Eletricidade de Bitcoin aponta o consumo anual num valor menor, de 139.59 TW/h.
O bitcoin prejudica o meio ambiente?
A maioria dos pesquisadores concorda que as moedas eletrônicas consomem muita eletricidade, mas as estimativas quanto a isso variam, pois é difícil acertar os dados com precisão.
Além dos dados disponíveis serem limitados, eles frequentemente também são padronizados. Em consequência, as estimativas podem variar de acordo com a metodologia de cada pesquisador.
Os pesquisadores de Cambridge alertam contra pesquisas tendenciosas, e que as análises devem ser feitas com cautela.
“Por exemplo, comparar os gastos de eletricidade do bitcoin com a pegada [de carbono] anual de países com milhões de habitantes traz preocupações sobre o consumo de energia do bitcoin fugir do controle”, escrevem eles. “Por outro lado, essas preocupações, em certo nível, podem se reduzir quando aprendemos que algumas cidades e áreas metropolitanas em países desenvolvidos operam em níveis similares”.
De acordo com eles, o bitcoin usa menos eletricidade que o uso combinado de todas as geladeiras (104 TW/h) e televisores (60 TW/h) dos Estados Unidos.
Porém, essas comparações também são problemáticas, pois trazem a questão do consumo em massa de eletricidade e eletrônicos ao redor do mundo, e de como esse próprio processo é insustentável numa escala mundial.
Bitcoin e energias renováveis
Em contrapartida, seria possível usar energia renovável no processo de mineração, mas isso também se reduziu, de 41.6% para 25.1% em 2021. Isso ocorreu, segundo de Vries, devido ao banimento da mineração de bitcoin em Pequim.
Assim, os mineradores saíram da China, onde utilizavam energia hidrelétrica extra, e foram para os EUA, onde as redes elétricas em sua maioria dependem de combustíveis fósseis.
Além do uso de energia, o bitcoin também afeta o meio ambiente ao produzir toneladas de resíduos eletrônicos. E à medida que a popularidade do bitcoin aumenta, os mineradores terão que atualizar o hardware para manter sua competitividade. Isso significa, em geral, que terão que se desfazer dos processadores antigos.
de Vries estima que o lixo eletrônico gerado por cada transação de bitcoin é equivalente a jogar fora dois iPhones. A opinião, contudo, ainda não é compartilhada por todos.
Nigel Green, CEO do deVere Group, consultores financeiros, contou à Verdict que a mineração de bitcoin poderia fazer uso de energia renovável, inclusive da energia extra que não encontra armazenamento, fornecendo lucro para investimentos e expansão na área.
Outros grupos, como o da NEAR Foundation, cuja rede de blockchain sustenta a Sweatcoin, tenta aplicar outras alternativas: a cada 1000 passos que o usuário dá, ele ganha outro token SWEAT. Startups como a NuPay Technologies reconhecem que, se o objetivo é popularizar as criptomoedas, o mercado deve produzir tecnologias mais verdes, eficientes e inteligentes.