A Terra tem mudado, isso é um fato. Várias espécies de animais estão em extinção, a flora de diversas regiões têm sofrido alterações irreversíveis, o próprio clima do planeta já sinaliza para um cenário caótico. Nesse contexto, a população de caranguejos-das-neves do Mar de Bering tem diminuído consideravelmente nos últimos cinco anos, mas nessa temporada entrou em colapso. O que está acontecendo?
Recentemente, houve uma queda massiva na população de caranguejos dessa espécie; tão significativa que os animais praticamente sumiram das águas. A triste previsão é de que eles não voltem tão cedo.
População de caranguejos-das-neves do Mar de Bering está sumindo
A queda populacional dos caranguejos-das-neves do Mar de Bering já é uma realidade. De acordo com informações do Seattle Times, em 2018, cerca de 3 bilhões de caranguejos-da-neve maduros (Chionoecetes opilio) habitavam o Mar de Bering, junto com 5 bilhões de caranguejos imaturos. Já em 2021, os números correspondentes aos caranguejos maduros eram em torno de 2,5 milhões e de caranguejos imaturos de 6,5 milhões; ou seja, uma perda de quase oito bilhões de caranguejos em apenas três anos, pouquíssimo tempo para essa escala.
O panorama é tão alarmante que em fevereiro, o Serviço Nacional de Pesca Marinha emitiu um aviso oficial de sobrepesca para a população. Além disso, no início desse mês, funcionários do Departamento de Pesca e Caça do Alasca (ADFG) decidiram cancelar a colheita de caranguejos-da-neve com receio de acabar com os crustáceos de forma definitiva.
Em comunicado, os agentes representantes da ADFG, disseram que “A gestão do caranguejo-da-neve do Mar de Bering deve agora se concentrar na conservação e reconstrução, dada a condição do estoque”.
A bióloga federal Erin Fedewa, ainda em junho, embarcou em um navio de pesquisa e descobriu, junto de outros biólogos e pesquisadores, que a queda no número de caranguejos-da-neve maduros é muito significativa. Segundo Fedewa, “Os juvenis obviamente eram uma bandeira vermelha, mas quase todos os tamanhos de caranguejos-das-neves estavam em declínio dramático […] É muito assustador.”
O que motivou queda dramática na população dos caranguejos-das-neves
O colapso pelo qual passa a população dos caranguejos-das-neves do Mar de Bering ocorre durante um período crucial e desestabilizador: mudanças climáticas. Na última década, o planeta sentiu, de modo mais intenso, os danos que o aquecimento global pode trazer. Tais mudanças no clima são responsáveis diretas pela destruição dos ecossistemas marinhos.
Desse modo, as práticas desenfreadas que o homem faz que contribuem para o aquecimento global, como a queima dos combustíveis fósseis e a degradação do meio ambiente, juntamente com a pesca insustentável dos crustáceos certamente são os principais motivos que levaram à queda populacional dos caranguejos-das-neves do Mar de Bering.
Assim, na medida em que as águas esquentam, alguns caranguejos maduros se movem para noroeste; os caranguejos jovens, por sua vez, estão sendo devorados por um número cada vez maior de predadores. Ademais, as doenças também estão aumentando, o que faz com que os caranguejos-das-neves se tornem mais vulneráveis.
Temperatura da água
As águas frias do norte do fundo do Mar de Bering são o habitat natural dos caranguejos-das-neves. Nelas, os animais não só alcançam o conforto, como também o seu ciclo de vida é beneficiado. Isso porque os caranguejos-das-neves juvenis vão até à “piscina fria” – que para eles é um verdadeiro santuário – uma vez que não há predadores e eles podem crescer em paz, pois a água é muito fria.
Contudo, essa “proteção” vem diminuindo consideravelmente: ondas de calor recorde entre 2016 e 2019 enfraqueceram a formação de piscinas frias no Mar de Bering, deixando os bebês caranguejos completamente vulneráveis a predadores. Com a mudança climática antropogênica, essas ondas se tornarão mais comuns nos próximos anos.
O cancelamento da temporada, bem como o futuro incerto dos caranguejos-das-neves têm efeito também na economia, visto que para muitas famílias, a pesca é o principal meio de subsistência.
A alternativa, portanto, é pedir, como já tem acontecido, que o Conselho de Gestão da Pesca do Oceano Pacífico Norte imponha mais e melhores medidas de proteção, bem como conservação que possam reconstruir a população de caranguejos-das-neves do Mar de Bering.