Há uma entidade misteriosa, além dos limites da nossa galáxia, que está nos empurrando com uma força tremenda. Não sabemos exatamente o que é, ou há quanto tempo ela está ali. Contudo, sabemos o seu nome: repelente de dipolos.
Pode ser um nome estranho, mas é algo real, ainda que não seja motivo de preocupação. O repelente de dipolos é apenas uma consequência do processo de formação estrutural que está ocorrendo no universo há 13,8 bilhões de anos.
Aglomerados e superaglomerados
Para entender a dimensão do repelente de dipolo, precisamos encarar o assunto numa perspectiva de escala cósmica. Além da Via-Láctea, há outras galáxias, como a de Andrômeda, a 2,5 milhões de anos-luz, e a de Triângulo.
Essas três galáxias, juntas a outras dúzias de galáxias anãs, formam o Grupo Local. O que há de mais próximo ao Grupo Local é o Aglomerado de Virgem, um conjunto com mais de mil galáxias a 60 milhões de anos-luz de distância.
Nosso Grupo Local, e outros grupos nessa região do espaço, não fazem parte do Aglomerado de Virgem em si, mas de uma estrutura maior, conhecida como o Superaglomerado de Virgem.
Grupos e aglomerados tem definições compreensíveis, de acordo com a gravidade. Superaglomerados, contudo, não, pois são apenas conjuntos de galáxias maiores que aglomerados, mas menores que o universo como um todo.
Diferentes cosmólogos usam diferentes definições para o termo “superaglomerado”, pois é difícil delimitar onde eles terminariam.
Apesar disso, conseguimos entender o panorama geral e prosseguir. O Superaglomerado de Virgem possivelmente é apenas um ramo de um superaglomerado ainda maior, o de Laniakea. Outros superaglomerados se conectam com Laniakea, como o de Shapley, o de Hercules e o Pavo-Indus.
Cada uma dessas estruturas massivas tem centenas de milhões de anos-luz de comprimento.
Os superaglomerados são enormes, mas entre eles há regiões vazias, que em termos cosmológicos são nomeadas como “vazios cósmicos”.
Cada superaglomerado define a borda de um vazio cósmico correspondente. Há o vazio de Cão Maior, o de Böotes, entre outros. Cada um deles é um grande espaço cheio de… Nada. São como terrenos baldios cósmicos, contendo apenas algumas poucas galáxias, como oásis num deserto.
Os maiores deles, como o de Böotes, possuem mais de 300 milhões de anos-luz de diâmetro.
O repelente de dipolos
É difícil mapear a nossa vizinhança cósmica. Isso porque a poeira na Via-Láctea dificulta nossa visão, e por isso precisamos de recursos astronômicos, como pesquisas de rádio e sensores infravermelhos.
É através deles que os cosmólogos foram capazes de identificar o Superaglomerado de Shapley, o mais próximo de Laniakea. A massa do Superaglomerado de Shapley é tão impressionante que ele exerce uma força gravitacional em toda essa região do espaço. Todas as galáxias, inclusive a Via-Láctea, estão se movendo em sua direção.
Contudo, a massa estimada do Superaglomerado de Shapley pode não ser o suficiente para justificar a nossa velocidade. Para complementar a atração gravitacional de Shapley, precisa haver algo extra, um empurrão que venha do sentido oposto.
É aí onde se encontra o repelente de dipolos, um suposto vazio (talvez um supervazio) que fica no lado oposto da Via-Láctea, quando comparado ao Superaglomerado de Shapley. Enquanto Shapley nos puxa com sua enorme massa gravitacional, o repelente de dipolos nos empurra.
Mas com o quê?
Exemplificando, digamos que há um buraco em alguma coisa, como num pedaço de madeira. Se posicionarmos algo próximo ao buraco, o objeto vai sentir uma atração gravitacional para todas as direções, menos para o buraco.
Assim, ele vai tender a se distanciar dele, porque o buraco não pode contribuir com sua própria influência gravitacional.
Vai parecer como se o buraco – nesse caso, o vazio cósmico – estivesse repelindo o objeto, ainda que ele esteja apenas parado lá, sem fazer nada.