Este dente-de-sabre foi um dos primeiros carnívoros do mundo

Dominic Albuquerque
O dente-de-sabre recém descoberto. Imagem: Museu de História Nacional de San Diego

Felinos são, certamente, criaturas fascinantes. Mas perigosos também, principalmente os do mundo selvagem. Suas presas são uma das características específicas dessas criaturas, que podem ter uma dieta completamente carnívora. Dos mais antigos, o dente-de-sabre certamente se destaca.

Em termos de dieta, há 42 milhões de anos atrás, o cenário era bem diferente. A evolução de presas afiadas especializadas em perfurar e triturar carne estava apenas começando.

Um dente-de-sabre foi, recentemente, estudado por paleontólogos do Museu de História Natural de San Diego, nos Estados Unidos. O novo estudo descreve um dos primeiros predadores felinos na costa oeste da América do Norte, nos dando informação sobre esses predadores antigos e a evolução dos carnívoros modernos.

“Hoje, a habilidade de se alimentar com uma dieta somente de carne, também chamada de hipercarnívora, não é incomum. Tigres o fazem, ursos polares podem fazê-lo. Mas 42 milhões de anos atrás, os mamíferos ainda estavam descobrindo como sobreviver apenas com carne”, disse Ashley Poust, paleontóloga do museu.

“Um grande avanço foi a evolução de dentes especializados para cortar carne – o que é algo que vemos no novo espécime descrito”.

O novo dente-de-sabre

A nova criatura, chamada Diegoaelurus vanvalkenburghae, é conhecida por apenas um pedaço de uma mandíbula inferior com dentes acoplados. São eles que nos dão tantas informações sobre esse predador antigo.

O D. vanvalkenburghae é parte da subfamília de felinos extintos dos Machaeroidinae, cujo nome faz referências a adagas – sem dúvidas, por causa das presas afiadas. O fóssil parece ser o mais recente dentre os machaeroidine encontrados, e é muito diferente do parente mais próximo, o Apataelurus kayi.

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O fóssil da mandíbula do Diegoaelurus. Imagem: Museu de História Nacional de San Diego

“Nada assim existia nos mamíferos antes”, contou Poust.

“Alguns ancestrais de mamíferos tinham presas longas, mas o Diegoaelurus e seus poucos parentes representam a primeira abordagem felina para uma dieta completamente carnívera, com dentes de sabre na frente e dentes de tesoura atrás, chamados ‘carnassials’. É uma combinação potente que diversos grupos de animais desenvolveram independentemente nos milhões de anos seguintes desde então”.

É importante ressaltar que outras subfamílias também contiveram predadores dentes-de-sabre, incluindo a Machairodontinae, que contém o Smilodon fatalis, o dente-de-sabre mais famoso.

A mandíbula estava no museu desde 1988, mas só agora foi analisada pela equipe. O fóssil foi desenterrado de um leito rochoso de 42 milhões de anos chamado Formação Santiago, em San Diego.

A formação data do Eoceno tardio, e pode nos dar informação de um período onde o mundo era mais quente, e a Califórnia era uma floresta úmida.

“Os fósseis da Formação Santiago nos mostram uma Califórnia florestada e molhada, onde pequenos rinocerontes, antas primitivas e estranhos oreodontes herbívoros semelhantes a ovelhas pastavam sob as árvores enquanto primatas e marsupiais incomuns se agarravam ao dossel acima”, disse Poust.

Essa variedade de presas teria dado a oportunidade do Diegoaelurus ter uma vida de caça especializada antes da maioria dos outros mamíferos.

Por enquanto, esse é o único fóssil do Diegoaelurus disponível, mas as escavações e pesquisas continuam. Talvez outros sejam descobertos, o que contribuiria ainda mais para os estudos.

O artigo foi publicado na Peerj, e um modelo 3D do fóssil pode ser visto aqui.   

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