Genes de pequenos cachorros já existiam em lobos selvagens

Mateus Marchetto
Imagem: Pezibear / Pixabay

Nos últimos 200 anos, a humanidade exerceu uma seleção artificial tão grande nos cães que eles foram de animais parecidos com lobos para chihuahuas e pequineses nesse pouco tempo. Contudo, um novo estudo genético mostra que os genes de pequenos cachorros já existiam milhares de anos antes da domesticação.

A nova pesquisa, publicada no periódico Current Biology analisou o mapa genético de 200 raças modernas de cachorros e os comparou com os de lobos, coiotes, raposas e ancestrais caninos.

A pesquisa, primeiramente, identificou 20 genes relacionados à variação do tamanho nas raças modernas de cachorros. Um deles, ademais, o Fator de Crescimento Semelhante a Insulina (IGF1), representou aproximadamente 15% de toda a variação de tamanho nos animais.

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Imagem: WorldInMyEyes / Pixabay

Dois alelos do IGF1 (alelo pequeno e alelo grande, segundo os autores) se mostraram consistentes na análise de 13 espécies de canídeos (lembrando que as raças de cachorro doméstico são todas da mesma espécie, Canis familiaris). Com 1.431 sequências genéticas destes canídeos, a equipe percebeu a relação dos alelos IGF1 com o tamanho do animal é bastante condizente.

Nos pequenos cachorros modernos, com uma média de 15 kg, o alelo pequeno é predominante. Já para os cães com mais de 25kg, o alelo grande domina.

Ainda mais impressionante, o alelo pequeno já estava presente na sequência genética de um lobo pré-histórico de 53.000 anos de idade. Segundo a pesquisa, é bastante provável que o alelo menor tenha surgido muito antes do maior. Isso, portanto, muda completamente a árvore evolutiva dos canídeos.

Mudando a narrativa dos cachorros pequenos

Muitas evidências indicam que a intensa seleção artificial foi a responsável pela redução do tamanho nos cães modernos. Contudo, esta nova descoberta indica que a espécie humana não chegou a modificar tão profundamente a genética dos cães (quanto ao tamanho).

Ou seja, como os genes para corpos menores já estavam lá, a seleção artificial apenas os trouxe novamente à tona. Isso também indica que os primeiros ancestrais dos canídeos eram bastante menores que os lobos cinzentos e seus primos extintos ainda maiores.

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Imagem: MartinDalsgaardSørensen / Pixabay

Na pesquisa, os autores afirmam: “Nossa análise demonstra que esse principal regulador de tamanho corporal canino quase desapareceu nos lobos do Pleistoceno, antes de sua recente ressurgência resultada de seleção imposta por humanos em raças de pequenos cachorros.”

Ainda assim, a seleção artificial causou diversas outras mudanças fisiológicas e morfológicas nos cachorros. Talvez algumas delas já estivessem nos genes dos animais, assim como o tamanho reduzido, e nós apenas as revivemos.

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