Como paralisar grandes tubarões com cócegas no nariz

Jamille Rabelo

Há um modo de paralisar tubarões de forma bem científica. É chamado de imobilidade tônica (tonic immobility em inglês) e é o processo em que o tubarão vira seu corpo para baixo e fica parado por quase 15 minutos em um estado semelhante à hipnose. Pesquisadores utilizam essa técnica para estudar com mais detalhes os tubarões de forma menos invasiva que a captura e pesca.

Imobilidade tônica

A imobilidade tônica é um estado reflexivo de paralisia que existe em uma variedade de espécies, desde mamíferos e insetos, até muitas espécies diferentes de peixes. Existem vários gatilhos para a imobilidade tônica – os humanos podem entrar neste estado em resposta a algum trauma, enquanto as galinhas podem ser hipnotizadas ao segurar sua cabeça e traçar uma linha a partir do seu bico.

Os tubarões possuem um reflexo de imobilidade tônica bastante forte. O estado hipnótico pode ser desencadeado por duas ações: virar o tubarão inteiro de cabeça para baixo, ou massagear a parte da frente do focinho.

Combinado, um hábil mergulhador pode agarrar o focinho de um tubarão, massageá-lo e virá-lo. Assim, pesquisadores podem examinar o corpo tubarão, medi-lo, colocar uma marcação, etc.

Como funciona?

321780585
Madison Stewart holding silky shark in ‘tonic immobility’

Para conseguir a imobilidade tônica, um mergulhador estimula certos poros na frente do nariz de um tubarão, chamadas de Ampolas de Lorenzini. São órgãos receptivos especiais que sentem estímulos elétricos na água, bem como mudanças de temperatura, e é por causa destes poros extremamente sensíveis que os tubarões são caçadores tão temíveis.

Assim, quando as mãos são colocadas levemente de ambos os lados do focinho, perto dos olhos de um tubarão, pensa-se que as Ampolas de Lorenzini ficam excessivamente estimuladas, e o tubarão fica paralisado. Esta técnica é bastante eficaz em tubarões tigres, mas tem uma baixa taxa de sucesso em tubarões brancos, por razões desconhecidas. Alguns cientistas sugerem que o nariz de um grande tubarão branco é muito grande para estimular os poros com sucesso.

Como alternativa, se um tubarão tiver seu corpo virado para baixo, a maioria ficará imediatamente paralisada, só recuperando o controle após uma média de 15 minutos. Mais uma vez, o grande tubarão branco parece ser o menos afetado por este fenômeno, mas ainda assim fica alterado quando virado.

Uma bênção e uma maldição

Enquanto virado de cabeça para baixo, a respiração do tubarão diminui, os músculos se tornam relaxados e a barbatana dorsal se endireita, tornando-o totalmente indefeso. O mecanismo exato sobre como ocorre a imobilidade tônica ainda é um mistério, nem os cientistas sabem por que este reflexo existe. Atualmente, a teoria mais popular é que o reflexo age como um mecanismo “fingindo de morto”, dissuadindo uma predação potencial.

As fêmeas de tubarões também parecem mostrar uma resposta de imobilidade tônica mais forte, talvez numa tentativa de deter a atenção masculina indesejada. No entanto, sua existência, mesmo em grandes predadores de topo, leva a questionar por que uma fraqueza tão clara existiria em tubarões sem predadores conhecidos.  

Há anos os cientistas utilizam a técnica para marcação geográfica em tubarões. Apesar da falta de reconhecimento por parte dos conselhos oficiais como uma técnica ética, a imobilidade tônica não causa nenhum dano ao tubarão, e muitas vezes eles simplesmente se endireitam e nadam pacificamente uma vez que o pesquisador tenha concluído sua tarefa. Cristina Zenato, mergulhadora da UNEXSO nas Bahamas, aperfeiçoou esta técnica e a utilizou para remover anzóis em tubarões feridos.

Curiosamente, as orcas também estão muito conscientes das fraquezas até mesmo dos maiores tubarões. As orcas têm sido descobertas usando a imobilidade tônica como ferramenta de caça contra arraias, e raramente, grandes tubarões brancos.

Compartilhar