Estes vermes se suicidam para produzir leite para suas larvas

Mateus Marchetto
Imagem: Adobe Stock

Após pesquisadores modificarem geneticamente os vermes Caenorhabditis elegans para terem sinapses de hidras, agora uma equipe descobre um comportamento bizarro nestes vermes. De acordo com uma nova pesquisa, as C. elegans produzem um tipo de leite primitivo para suas larvas – e se suicidam no meio do caminho.

Por muito tempo já se sabia que estes nematódeos morriam pouco tempo após a idade reprodutiva, questão de alguns dias. Acontece que as C. elegans são hermafroditas e podem se autofecundar. Ou seja, os vermes têm sistemas reprodutores masculinos e femininos e podem gerar filhotes “clones” a partir disso.

Todavia, pesquisadores observaram que após os estoques de espermatozoides dos vermes se esgotarem, o animal entrava em um processo de degradação completa, acabando na morte. Os restos de seus líquidos corporais viravam, assim, leite para as larvas que iriam se desenvolver posteriormente. Nojento, mas real.

Agora, o paper publicado no periódico Nature Communications descreve pela primeira vez o processo de “suicídio reprodutivo”. Muitos outros invertebrados, como aranhas, morrem após botar seus últimos ovos e deixam seu corpo como alimento para os filhotes.

Contudo, como os autores descrevem no título do artigo, essa é uma forma de “lactação primitiva” completamente desconhecida até o momento nestes vermes.

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Imagem: Dimitri Wittmann / Pixabay

“É tanto uma forma de lactação primitiva, a qual apenas alguns invertebrados foram mostrados a fazer, quanto uma forma de suicídio reprodutivo, como as mães vermes se sacrificam para apoiar a próxima geração.”, afirma o autor David Gems, ao Phys.org.

Leite de vermes e o envelhecimento humano. Qual a relação?

Não é à toa que tantas pesquisas envolvem os C. elegans. Assim como os ratos e camundongos, estes vermes são organismos modelo de pesquisa. Portanto, frequentemente descobertas sobre a fisiologia e genética destes animais podem fornecer tecnologias e insights para aplicação na saúde humana.

A pesquisa que identificou essa produção primitiva de leite nos vermes também estudou os mecanismos genéticos do processo, gerando um segundo artigo publicado no periódico Frontiers in Cell and Developmental Biology. Isso é importante pois o suicídio reprodutivo está diretamente ligado à longevidade do animal.

Ainda de acordo com essa segunda pesquisa, o suicídio para a produção de leite dos vermes evoluiu provavelmente de mecanismos gerais de envelhecimento, como os que ocorrem nos H. sapiens, por exemplo.

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Imagem: swiftsciencewriting / Pixabay 

Como Gems ressalta, em uma declaração, a edição genética de C. elegans resultou, em estudos anteriores, em estimativas de vida 10 vezes mais longevas paras os vermes. Apesar de nós humanos não termos esse comportamento bizarro, a genética por trás disso pode estar relacionada com a degradação das nossas células e material genético ao longo da vida.

Para complementar o comportamento dos vermes, os pesquisadores ainda observaram que os animais põem ovos inférteis, cheios de vitelo (substância nutritiva análoga à gema), pouco antes de se suicidarem. Observações das larvas mostraram que os filhotes consomem também estes ovos como fonte de nutrientes, além de sugarem o líquido corporal de suas mães.

A primeira pesquisa está disponível no periódico Nature Communications. A segunda, em Frontiers in Cell and Developmental Biology.

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