Por mais estranho que pareça, é possível se fazer uma impressão 3D de uma superfície com uma cultura de células embutida. Nesse sentido, pesquisadores israelenses acabam de criar o primeiro modelo 3D de um glioblastoma, um dos tipos mais violentos de tumor cerebral.
Um tumor, por conseguinte, tem vários estágios para seu desenvolvimento. Para se tornar maligno, o câncer precisa ter a habilidade de roubar nutrientes, se replicar indefinidamente e escapar do sistema imune, por exemplo. Nesse último caso, aliás, que um glioblastoma se torna altamente letal.
Acontece que este tipo de tumor converte as células da micróglia, do sistema imune do cérebro para trabalharem a seu favor. Isso acontece por meio de uma molécula chamada P-selectina, a qual a mesma equipe de pesquisadores avaliou em estudos anteriores. Contudo, cultivos 2D em placas de Petri não simulam muito bem o ambiente do sistema nervoso.
Assim, o artigo publicado no periódico Science Advances mostra como a equipe criou um glioblastoma impresso 3D, inclusive com células dos tecidos de um paciente. Isso permite, portanto, uma especificidade extremamente alta e eficiente na pesquisa de novos tratamentos.
Estimativas mostram, por exemplo, que apenas em torno de 5% dos medicamentos para tumores passam da fase I dos testes clínicos. De acordo com a equipe, aliás, isso acontece pois os modelos atuais – 2D – não refletem a real condição do glioblastoma dentro do sistema nervoso.
Microambiente do glioblastoma no cérebro
A partir da tecnologia citada, os pesquisadores puderam criar um pequeno biorreator, como um chip, contendo uma matriz de hidrogel, circulação de líquidos e diversas populações celulares. Isso permite simular, portanto, a matriz extracelular, a circulação sanguínea e a interação do tumor com outras células, respectivamente.
“Se nós pegarmos uma amostra do tecido de um paciente, junto com sua matriz extracelular, nós podemos bioimprimir em 3D, desta amostra, 100 pequenos tumores e testar várias drogas diferentes em diversas combinações para descobrir o tratamento ideal para este tumor específico.” Assim afirma Ronit Satchi-Fainaro, professora e autora sênior da pesquisa.
Além do problema do microambiente, células em cultivos 2D são muito mais susceptíveis a mutações e variações, e acabam ficando diferentes do glioblastoma original após certo tempo. Esta pesquisa mostrou, ademais, que as células do tumor da impressão 3D são muito mais similares ao tumor original.
“Mas talvez o aspecto mais animador é encontrar novas proteínas-alvo tratáveis e genes em células cancerosas – uma tarefa muito difícil quando um tumor está dentro do cérebro de um paciente humano ou modelo animal.”, completa a Doutora Satchi-Fainaro.
A pesquisa está disponível no periódico Science Advances.