Bactérias encontradas no fundo do mar são invisíveis ao nosso sistema imunológico

Ruth Rodrigues
Sistema imunológico não reconhece as novas bactérias encontradas no Oceano Pacífico. (SOI)

Recentemente, pesquisadores descobriram uma espécie de bactéria que contradiz muitas coisas acerca do que conhecemos sobre o nosso sistema imunológico. Tais exemplares foram encontrados em um local bastante profundo do Oceano Pacífico e que, devido a sua localização, varreram quaisquer vestígios de sua existência, até o momento. Caso entre em contato com o organismo, suas células de defesas não terão como reconhecer esses novos patógenos.

O sistema imunológico e as novas bactérias

Na disciplina de imunologia, aprendemos que, quando um patógeno entra em contato com as nossas células de defesa, essas irão criar memória e combatê-las durante uma próxima invasão.

Entretanto, nessas condições, caso essa nova espécie ataque o nosso sistema, elas conseguirão entrar e colonizar sem problemas, uma vez que as células não as conseguem reconhecê-la.

Os princípios de Imunologia nos apresentam que, o sistema imunológico evoluiu com o passar dos anos, para que possa reconhecer os micróbios e demais patógenos que podem vir atacar as células.

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Segundo Jonathan Kagan, Imunologista e autor do estudo publicado, “a ideia era que o sistema imunológico é um generalista, ele não se importa se algo era uma ameaça ou não, apenas se livrou disso. Mas ninguém tinha realmente testado essa suposição até agora”.

O local para pesquisa fica localizado no Oceano Pacífico, mais precisamente na Área Protegida das Ilhas Phoenix em Kiribati, 1.650 milhas a sudoeste do Havaí. A meta ao chegar nesse destino era encontrar bactérias que nunca tiveram contato com o corpo humano antes.

cientistas viajam a bordo para encontrar novas bactérias
Os cientistas passaram 20 dias a bordo do navio de pesquisa Falkor do Schmidt Ocean Institute para coletar as amostras. (SOI)

É válido ressaltar que, não se trata somente de escolher um lugar aleatório e profundo, mas sim, que tenha profundidade, seja antigo, protegido e que tenha registrado na história, alguma atividade local.

Uma pesquisa em busca do desconhecido

Devido a profundidade de 4 mil metros, os pesquisadores tiveram que mergulhar em um submarino, para que pudessem coletar os espécimes. As amostras foram colhidas tanto na água, quanto nas esponjas, sedimentos e estrelas do mar, formando 117 espécies cultiváveis.

manipulação e coleta de novas espécimes de bactérias
O técnico de ROV Adam Wetmore controla o manipulador de SuBastian ao coletar uma amostra de coral. (SOI)

Logo após a coleta, os cientistas analisaram suas características e introduziram 50 cepas no sistema imunológico de humanos e camundongos. O gênero Moritella foi um dos mais detectados nos resultados, o equivalente à 80% do que fora coletado.

Porém, os receptores presentes no sistema imune foram incapazes de reconhecer a presença desses patógenos. Isso acontece, pois, as nossas células estão acostumadas em reconhecer os padrões do ambiente no qual está inserido.

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Caso fosse levado para um ecossistema diferente e entrasse em contato com patógenos, estes passariam despercebidos, como foi o que ocorreu. Em determinada parte do estudo, os cientistas usaram uma parte específica da parede celular bacteriana, chamada de lipopolissacarídeo (LPS), e a expuseram para os ratos.

A ideia partiu do princípio de que, normalmente, as células dos mamíferos utilizam essa região para reconhecer as bactérias gram-negativas e combater contra elas. Entretanto, a LPS também não foi vista pelas células do sistema imune.

preservação das novas bactérias encontradas
Anna Gauthier preservando amostras do fundo do mar em nitrogênio líquido. (SOI)

Para Kagan, “as moléculas de LPS pareciam semelhantes ao que você encontraria em bactérias em terra, mas muitas delas eram completamente silenciosas. Isso ocorre porque as cadeias lipídicas no LPS acabaram sendo muito mais longas do que as que estamos acostumados em terra, mas ainda não sabemos por que isso significa que podem passar despercebidas”.

O artigo científico foi publicado na Revista Science Immunology. Com informações de Live Science.

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