Em 2018, a NASA lançou e pousou a sonda InSight no planeta vermelho. Além de enviar os nomes das pessoas para lá (inclusive o meu nome foi junto com a sonda, risos), o lander levou inúmeros instrumentos científicos para olhar para dentro do planeta, revelando as camadas internas de Marte. Agora, em dezembro de 2020, dois anos após o pouso, os cientistas começam a ver os primeiros resultados científicos. Trata-se da primeira vez que olhamos para a estrutura interna de um planeta além da Terra.
Os pesquisadores falaram um pouco dessas análises no dia 15 de dezembro em uma reunião virtual da American Geophysical Union. Eles ainda não publicaram um artigo, que segue em análise por pares por um periódico ainda não revelado.
A sonda captou uma boa quantidade de dados sísmicos desde que pousou por lá – um total de quase 500 pequenos tremores. Mas desde junho, sofre com a interferência dos ventos. Os tremores são bem pequenos, e por isso, então, os sensores precisam de uma alta sensibilidade. Mas mesmo abaixo da Terra, eles detectam as vibrações dos ventos da rarefeita atmosfera marciana.
Além disso, muita areia do planeta se acumula nas placas solares da sonda. Isso significa que Insight possui seus anos ou meses contados. As missões de longa duração no planeta utilizam células nucleares. Não são reatores, mas dispositivos parecidos com baterias, que funcionam através do paciente decaimento radioativo. Mas InSight possui apenas placas solares, e já passa por algumas restrições de energia.
Superando dificuldades
Além das limitações de energia, os pesquisadores lidam com frustrações na dificuldade de se enterrar melhor os sensores da sonda, que se prenderam no solo que compactou durante a penetração da haste e com as frustrações da falta de tremores de magnitude maior d o que 4,5. Mas eles já fazem milagres com os dados atuais.
O principal meio de análises ocorre através de instrumentos chamados sismômetros (o sensor de um sismógrafo). Eles captam as vibrações abaixo do solo, geradas com terremotos e pequenos tremores e os armazenam em gráficos e dados numéricos.
Embora tratem-se de apenas vibrações, elas indicam muito sobre o interior de um planeta – desde o tamanho da crosta, até sua composição, o estado físico do manto de do núcleo, além de diversos outros dados geofísicos, da mesma forma que se faz na Terra. Os pesquisadores sabem de tudo isso somente pela forma como as ondas vibratórias se propagam, através do conhecimento das propriedades de diferentes materiais e composições.
Os pesquisadores já fizeram algo semelhante na Lua. Portanto, analisar os dados sísmicos de Marte não é algo tão complicado assim. Embora o planeta vermelho possua uma atividade sísmica muito menor do que a Terra, possui uma atividade consideravelmente maior do que a Lua. Isso se deve, em partes, ao tamanho dos corpos. Quanto menor, mais rápido seu interior esfria.
Os dados das camadas geológicas mais fundamentais de Marte, “temos dados suficientes para começar a responder a algumas dessas grandes questões”, conforme disse à Nature News o pesquisador principal, Bruce Banerdt, do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA. Os dados indicarão como Marte se resfriou, como se formou, e como foi no passado.
As camadas internas de Marte
A primeira fatia de um planeta é a crosta, a “casca” que envolve o interior. Não sabia-se, com certeza, se a crosta marciana possuía diversas subcamadas, como na Terra. Agora, os pesquisadores notaram que ela possui duas ou três camadas, totalizando uma espessura que varia entre 20 e 37 quilômetros de espessura.
Eles também descobriram que o manto de Marte é muito mais frio do que se esperava (pois perdeu seu calor durante a juventude) e o núcleo, ainda líquido, incapaz de produzir campos magnéticos decentes. Agora, os pesquisadores esperam por uma milagrosa detecção de um forte terremoto, para revelar novos detalhes, e futuros estudos trarão mais luz aos dados já obtidos das camadas internas de Marte.