Em um mesmo idioma é comum que as palavras sejam faladas de forma diferentes, como no Nordeste e no Sul do Brasil, por exemplo. Só que os primatas não humanos também apresentam um comportamento semelhante. Por exemplo, os babuínos que vivem juntos têm sotaques parecidos, diferente dos encontrados em outros grupos distantes, de acordo com a New Scientist.
Os primatas possuem uma comunicação sofisticada em comparação com outros animais. São capazes de produzir uma variedade de sons, que assim podem ser usados para alertar os companheiros próximos. Além disso, eles podem mudar o tom usado para corresponder ao “assunto que está sendo tratado”.
Sotaque dos babuínos que vivem juntos é parecido
Uma equipe do German Primate Centre, liderada por Julia Fischer, realizou alguns testes de interação social com babuínos da Guiné (Papio papio), que vivem no Parque Nacional Niokolo-Koba, no Senegal. De fato, esses animais vivem em grupos, com um macho e várias fêmeas.
“Eles vivem em uma sociedade hippie e tolerante, onde os machos cuidam uns dos outros e há muito pouca competição”, comentou Fischer. Segundo ela, é comum que os machos grunhem em sinal de amizade. Foram gravados sons de 27 machos e dois grupos, assim puderam avaliar a frequência, duração e chamada, para avaliar as semelhanças.
Durante a pesquisa, conseguiram identificar que o sotaque dos babuínos que vivem juntos é semelhante. “Isso provavelmente é resultado de ser exposto ao som do seu grupo”, explicou Fischer. De fato, foram percebidas um maior número de semelhanças dentro de um mesmo grupo.
A pesquisadora relatou ainda que os babuínos podem estar reproduzindo sons que ouvem, assim como os humanos fazem, principalmente as crianças quando aprendem a conversar. Talvez apresentar o mesmo “sotaque” seja importante para criar laços com o grupo onde vivem. Então, conseguiriam aumentar o nível de confiança.
Resultados podem ajudar a entender a evolução humana
Pesquisar a comunicação de primatas é algo que pode ajudar a entender a evolução da linguagem humana. Conforme Fischer, existem várias formas de aprender uma nova língua. “Você pode ter diferentes formas de aprendizagem vocal, como as vistas nos babuínos, mas pode ser muito diferente da forma como aprendemos as palavras”, comentou.
E uma pesquisa como essa ajuda a mostrar que os primatas, como os babuínos, são mais flexíveis do que imaginamos. “Isso sugere uma ponte potencial entre o aprendizado vocal intencional em humanos e outros primatas em nossa história evolutiva compartilhada”, comenta Zanna Clay, da Durham University, do Reino Unido.