No último dia 16, todos voltavam seu olhos para a nave Crew Dragon Resilience, da SpaceX, chegando com sucesso na ISS levando quatro astronautas. No entanto, quase ao mesmo tempo, O foguete europeu Vega da empresa francesa Arianespace falhou enquanto decolava. O lançamento ocorreu a partir da clássica base europeia de Kourou, na Guiana Francesa – uma província ultramarina (vulgo colônia, embora por motivos históricos os europeus não gostem desse termo) da França na América do Sul.
Erros em lançamentos de foguetes não são raros. Felizmente, há quase duas décadas não ceifa vidas humanas. Os dois últimos acidentes fatais com foguetes ocorreram em 2003. Naquele ano, enquanto técnicos e engenheiros preparavam o foguete brasileiro VLS para o lançamento, um erro elétrico causou sua explosão, matando 21 pessoas e praticamente desativando com o projeto do VLS. Também em 2003, o Ônibus Espacial Columbia, dos Estados Unidos, se desintegrou na atmosfera durante a reentrada, matando 7 astronautas. Após isso, o governo americano optou por aposentar os caros e complexos ônibus espaciais.
Voltando ao lançamento do dia 16, ele carregava apenas cargas.
“Agora podemos confirmar que a missão está perdida”, disse Stéphane Israël, CEO da Arianespace, durante uma transmissão ao vivo de lançamento. “Oito minutos após a decolagem, e imediatamente após a ignição do motor da quarta etapa de Vega, a etapa Avum, observamos a degradação da trajetória”
Perdas de cargas
Felizmente tratava-se de um lançamento de satélites, e nenhuma vida humana se perdeu. Mas em termos monetários e de trabalho, uma grande perda.
O primeiro é o SEOSAT-Ingenio, um satélite de observação da Terra da Agência Espacial da Espanha. Ele entregaria imagens de alta resolução para utilizações técnicas e científicas para instituições espanholas. Satélites de observação da Terra são bastante versáteis para, por exemplo, monitoramento ambiental.
O segundo é um pequeno satélite Francês chamado TARANIS (sigla em inglês para Ferramenta para Análise de Radiação de Raios e Sprites), acrônimo que faz, ainda, referência ao deus do trovão e do relâmpago cultuado na Gália, povo que morava em uma região da atual França. O satélite estudaria eventos transitórios (como raios e eventos luminosos transientes) que ocorrem entre 10 km e 100 km de altitude, na atmosfera da Terra.
Investigações
Agora, portanto, a empresa buscará saber exatamente o que ocorreu. No dia 16, sabia-se apenas que tratava-se de um problema de trajetória causado por um erro na ignição ignição do motor do estágio superior, mas nada além disso. “Análises de dados de telemetria estão em andamento para determinar a causa desta falha”, disse a empresa, conforme do Space News.
No momento em que escrevo esse texto, início da tarde do dia 17, a empresa revelou, então, que o que causou o problema na ignição do foguete europeu Vega foi um erro humano. Os técnicos instalaram cabos de parte do sistema de controle de forma incorreta.
Roland Lagier, diretor técnico da Arianespace, disse a alguns repórteres que os três primeiros estágios funcionaram perfeitamente. O erro, portanto, ocorreu no sistema de controle somente do estágio superior. Com isso, o foguete perdeu o controle, “induzindo um comportamento de tombamento significativo, e então a trajetória começou a se desviar rapidamente da nominal, levando à perda da missão”, nas palavras de Lagier.
Eles descobriram isso tão rapidamente pelas análises de telemetria – os dados que o foguete envia ao longo do lançamento. Ela funciona como uma caixa preta, mas não física. O foguete transmite tudo em tempo real. Naquele momento é difícil de entender se tudo está como o planejado, mas análises mais cuidadosas posteriores explicam tudo que ocorre.
“Este foi claramente um problema de produção e qualidade, uma série de erros humanos, e não de design”, disse Lagier. Agora, a empresa convocará uma comissão de investigação para confirmar a causa e recomendar algumas medidas futuras. O inspetor-geral da Agência Espacial Europeia (ESA) presidirá a comissão.
Com informações de Space.com e Space News.