Os “sprites” e “elfos” que brincam na atmosfera de Júpiter

Felipe Miranda
(NASA/JPL-Caltech/SwRI)

Claro que não há nenhum elfo nem sprites na atmosfera de Júpiter. Trata-se de uma brincadeira dos cientistas – e eles transformaram as palavras em acrônimos, só para justificar tecnicamente o uso da palavra. Sprites e elfos são alguns fenômenos luminosos, na forma de flashes, que ocorrem pela atmosfera dos planetas. O nome técnico para esse tipo de evento é evento luminoso transiente (TLE, na sigla em inglês).

É como um disco achatado com alguns tentáculos que se entendem pela parte inferior. O fenômeno é bastante bonito, e lembra, muitas vezes, o formato de uma alga viva, mas também tem formatos mais abstratos.

Não ocorre apenas em Júpiter. É um evento não muito raro na Terra e, na verdade, nunca haviam sido observados em outro planeta. É a primeira vez que os cientistas detectam TLEs fora da Terra. Os pesquisadores descreveram a observação em um estudo publicado no periódico Journal of Geophysical Research: Planets.

Observando a atmosfera de Júpiter

Não foi algo completamente inesperado, embora seja uma surpresa. Os cientistas já imaginavam a ocorrência dos fenômenos na gigante e densa atmosfera jupiteriana. Sua atmosfera é extremamente ativa, cheia de tempestades e diversos outros fenômenos impressionantes. Então, um TLE não é uma surpresa. Com o espectrógrafo ultravioleta (UVS) da sonda Juno, em 2019 os cientistas identificaram uma faixa de emissão de raios ultravioleta. 

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Foto de um sprite na Terra obtida a partir de uma aeronave em 1994. (NASA/University of Alaska)

A NASA lançou a sonda Juno em 2011, e ela entrou na órbita de Júpiter em 2016. Desde então, a moderna sonda nos envia uma grande quantidade de dados em alta resolução. Na mitologia romana, Juno é a esposa de Júpiter, por isso a sonda leva esse nome.

“O UVS foi projetado para caracterizar as belas luzes do norte e do sul de Júpiter”, diz Rohini Giles, principal autor do artigo, em um comunicado. “Mas descobrimos imagens UVS que não só mostravam a aurora jupiteriana, mas também um flash brilhante de luz ultravioleta no canto onde não deveria estar. Quanto mais nossa equipe examinou, mais percebemos que Juno pode ter detectado um TLE em Júpiter.”

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O polo sul de Júpiter e um evento luminoso transiente potencial – um flash de luz brilhante, imprevisível e extremamente breve – é visto nesta imagem registrada de dados adquiridos em 10 de abril de 2020, do instrumento UVS de Juno. (NASA/JPL-Caltech/SwRI)

Relâmpagos bonitos

Surgindo quase 100 km acima das tempestades, se estendem por dezenas de quilômetros de comprimento e duram apenas algumas frações de segundo. É, então, como um relâmpago enfeitado. Mas não há, aparentemente, algum motivo específico para receberem o nome dos sprites, clássicos seres da mitologia europeia, especialmente inglesa. Às vezes os sprites são traduzidos como duendes, mas são um pouco diferentes de duendes, e às vezes são descritos como fadas ou outras entidade e aparições aéreas, embora às vezes façam referências a elfos. Como tudo na cultura, é uma questão bastante complicada – por isso apresentei sem tradução.

Certezas?

Em Júpiter, não é completamente igual na Terra, claro, já que há diferenças na composição da atmosfera, densidade, temperatura, entre outras inúmeras diferenças. “Na Terra, sprites e elfos aparecem na cor avermelhada devido à sua interação com o nitrogênio na alta atmosfera”, explica Giles. “Mas em Júpiter, a atmosfera superior consiste principalmente de hidrogênio, então eles provavelmente apareceriam em azul ou rosa”.

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Este é um TLE do tipo Blue Jet, no Hawaii. (Gemini Observatory / AURA)

São, no total, 11 eventos identificados. O que torna ainda mais promissora a possibilidade de serem de fato TLEs, é a região onde se formam. Nesse local, então, formam-se diversas tempestades elétricas. Ao descartar raios e relâmpagos, sobram os elfos e sprites. Além disso, diversos estudos anteriores já previam os eventos na região.

“Continuamos procurando por mais sinais reveladores de elfos e duendes cada vez que Juno faz uma aprovação científica”, diz Giles. “Agora que sabemos o que estamos procurando, será mais fácil encontrá-los em Júpiter e em outros planetas. E comparar duendes e elfos de Júpiter com aqueles aqui na Terra nos ajudará a entender melhor a atividade elétrica em atmosferas planetárias”.

O estudo foi publicado no periódico Journal of Geophysical Research: Planets.

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