Cientistas explicam a existência de cristais gigantes na Dinamarca

Amanda dos Santos
(Pixabay)

Como um grande número de cristais gigantes de glendonita conseguiu se formar? Esse é um dos quebra-cabeças geológicos, porque a formação aconteceu em condições de estufa global, no início do Eoceno (56-48 milhões de anos atrás).

A questão é que esses raros cristais gigantes de carbonato de cálcio precisam de temperaturas inferiores a 4 graus Celsius para se formarem. Eles são compostos do mineral ikaíte e encontrados às dezenas de milhões nas ilhas dinamarquesas de Fur e Mors. Inclusive, foram datados de 56-54 milhões de anos atrás.

O geólogo Nicolas Thibault, da Universidade de Copenhagen (Dinamarca), conta que há muito tempo essa formação é um mistério. Como encontrar cristais gigantes de glendonitas de um período quente quando as temperaturas ficavam acima de 35 graus? Não deveria ser possível.

O período Eoceno talvez não fosse tão quente

Foi feita uma análise química detalhada de amostras de glendonita feita por Thibault e uma equipe internacional de pesquisadores. Depois, o grupo usou uma técnica chamada termometria isotópica aglomerada para rastrear temperaturas de milhões de anos.

Então, temos uma resposta: talvez o Eoceno não fosse tão uniformemente quente como se pensava antes.

glendonita
Foto de uma glendonita. (Bo Schultz)

Embora evidências da ideia de um período Eoceno mais frio tenham sido apresentadas anteriormente, elas não foram conclusivas ainda. Mas a nova decomposição química ajuda os pesquisadores a defenderem as condições mais frias. São modelos sugerindo que os glendonitos se formaram em águas abaixo de 5 graus Celsius a uma profundidade de cerca de 300 metros.

Esses episódios mais frios do Eoceno podem ter ocorrido por causa de erupções vulcânicas localizadas em áreas específicas. Camadas sedimentares de cinzas na ilha de Fur apontam para essa possibilidade. O que explicaria também as águas mais frias, além do registro rochoso.

Thibault ressalta que provavelmente houve um grande número de erupções vulcânicas na Groenlândia, Islândia e Irlanda durante esse período. Então, as erupções lançaram gotículas de ácido sulfúrico na estratosfera que permaneceram lá por anos. Assim, protegendo o planeta do sol e refletindo a luz solar.

Tudo isso ajuda a explicar o que afetou o clima no início do Eoceno, na Dinamarca. Depois, esclarece também como as áreas frias regionais eram possíveis.

O novo estudo também pontua que a hipótese de períodos mais frios do Eoceno é mais plausível do que a alternativa. Antes de mais nada, essa alternativa seria que a ciência está errada sobre a temperatura que a rocha ikaíte é capaz de se formar.

Mudanças climáticas

Dinamarca
Dinamarca. (Pixabay)

A equipe vai analisar investigações semelhantes realizadas para ver o quão generalizado foi o resfriamento descoberto na Bacia dinamarquesa. Outros registros geológicos no Ártico sugerem que essa queda na temperatura não aconteceu em todo o globo durante o Eoceno.

Toda descoberta sobre o nosso passado climático, inclusive esse estudo, ajuda os cientistas a mapearem o nosso futuro climático. No período atual, podemos não ter o céu coberto por cinzas vulcânicas tão cedo, mas as mudanças climáticas rápidas acontecem de diversas formas. Assim como em partes do mundo há mais de 50 milhões de anos, até muito antes dos humanos habitarem o planeta.

O estudo científico foi publicado no periódico Nature Communications.

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