Físicos conseguem a supercondutividade em temperatura ambiente

Felipe Miranda
Levitação com um supercondutor. (University of Rochester)

A supercondutividade em temperatura ambiente é o sonho de todo o cientista que trabalha com matéria condensada ou engenheiro que trabalha com alguma coisa que necessita da condução perfeita de eletricidade – ou da indústria de eletrônicos, que se beneficia grandemente com a supercondutividade. E um grupo de físicos acaba de alcançar esse importante marco, em um estudo descrito na Nature.

Supercondutores são materiais que conduzem a eletricidade de forma quase perfeita – sem perda alguma. Você já notou que quando utiliza algum equipamento que demanda muita energia por bastante tempo – como um chuveiro, ou uma furadeira -, os cabos de energia esquentam? O aquecimento é uma das formas de perda de energia com a resistência. Em um supercondutor isso não ocorre. Eles também podem revolucionar o transporte, ajudando no desenvolvimento de trens por levitação eletromagnética.

A busca pelo condutor perfeito

Descoberta em 1911, desde então a supercondutividade é um dos principais campos de pesquisa na física de matéria condensada. No entanto, tamanho é o desafio que até hoje os cientistas precisavam resfriar os supercondutores, mesmo mais de um século após a descoberta. Outro ponto necessário são as altas pressões. Mas ninguém conseguiu solucionar isso ainda.

Em 2019, cientistas conseguiram a supercondutividade a -23° Celsius. Já é um resultado muito bom, em comparação com as temperaturas próximas ao zero absoluto (-273° C). No entanto, ainda impraticável para a utilização em larga escala. Já a supercondutividade à temperatura ambiente abrirá as portas em um futuro não muito distante.

14SCI SUPERCONDUCTOR superJumbo
(University of Rochester)

“Por causa dos limites da baixa temperatura, materiais com propriedades tão extraordinárias não transformaram o mundo da maneira que muitos poderiam imaginar”, diz Ranga Dias, do Departamento de Física e Astronomia da University of Rochester em um comunicado de imprensa. “No entanto, nossa descoberta quebrará essas barreiras e abrirá as portas para muitas aplicações potenciais”.

No entanto, mesmo que já não seja necessário o resfriamento, ainda há muito progresso a ser feito – a não ser que você utilize a supercondutividade só no outono e inverno dos países de alta latitudes. O supercondutor desenvolvido pela equipe funciona apenas até os 15°C – temperatura rara em países como o Brasil, e poucos lugares atingem isso durante a primavera e verão. 

Além disso, o novo supercondutor ainda necessita de altas pressões para o funcionamento. Não é como um fio de cobre, que você liga, solda e utiliza. 

A busca pelo material perfeito

Sabemos que os melhores condutores – térmicos e elétricos – do dia a dia estão no grupo dos metais. No entanto, embora cobre e ferro também estejam na lista, a supercondutividade a temperatura ambiente é bastante cogitada com o hidrogênio – leve, abundante e resistente.

“Para ter um supercondutor de alta temperatura, você quer ligações mais fortes e elementos leves. Esses são os dois critérios básicos ”, explica Dias. “O hidrogênio é o material mais leve e a ligação de hidrogênio é uma das mais fortes”.

Mas, como sabemos, o hidrogênio é um gás às nossas pressões e temperaturas. Em locais como o núcleo de Júpiter, torna-se o que chamamos de hidrogênio metálico, um esplendoroso condutor, mas alguns dizem que nunca foi de fato confirmado em laboratório, embora alguns cientistas reivindiquem a criação. A criação mais promissora ocorreu em 2017, por cientistas da Harvard University.

Nessa descoberta, no entanto, os cientistas não utilizaram apenas o hidrogênio. Eles utilizaram uma combinação de hidrogênio, carbono e enxofre, o hidreto de enxofre carbonáceo. Embora a temperatura seja promissora  – 15°C -, eles precisaram de uma pressão equivalente a cerca de 2,6 milhões de atmosferas da Terra – algo bastante esmagador.

As novas etapas, portanto, focarão na redução de pressão, além de tentativas de aumentar a temperatura, e possibilitar uma utilização global do material.

O estudo foi publicado na revista Nature. Com informações de Science Alert, Nature News e University of Rochester.

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