Hidrogênio metálico foi finalmente criado em laboratório?

Felipe Miranda
(Créditos da imagem: Sang-Heon Shim, Arizona State University)

Coloque o hidrogênio em pressões absurdas e pronto – você tem hidrogênio metálico. Isso é fácil quando se tem um meio extremo como a gravidade de Júpiter, mas extremamente difícil para meros mortais.

Nos últimos anos ocorreram algumas reivindicações de pesquisadores a descoberta do hidrogênio metálico, em meio à corrida pelo feito, mas nenhum foi confirmado.

Um dos últimos grupos a assumir autoria pelo feito foi em 2019. Eles dizem ter conseguido realizar com uma pressão equivalente a cerca de 4 milhões atmosferas terrestres – em 2020 eles podem ter dado um novo passo.

Para isso, eles espremeram o hidrogênio entre dois diamantes, um método que já fora utilizado por outros grupos. Segundo eles, a inovação está no formato da peça, que possibilita pressões maiores.

Enquanto aumentavam a pressão, eles lançaram um feixe de luz síncrotron no hidrogênio, e quando a pressão de aproximadamente 4 milhões de atm foi atingida, o hidrogênio se tornou opaco, ou seja, a luz não o atravessava mais. 

O que é o hidrogênio metálico e qual sua importância?

A primeira vez que foi previsto foi em 1930, e o líquido recebeu esse nome por apresentar algumas características metálicas, como a boa condução elétrica. No caso de Júpiter, ele é a fonte do campo magnético.

Sua produção em laboratório seria extremamente vantajosa para o campo de materiais supercondutores, que podem ajudar em muitos pontos a tecnologia e a ciência aplicada, por conduzir a energia elétrica praticamente sem resistência.

O principal problema com os supercondutores que conhecemos hoje, é que para um bom funcionamento, eles necessitam operar em uma temperatura extremamente baixa, o que inviabiliza a aplicação não experimental.

A vantagem do hidrogênio metálico seria a supercondução de eletricidade em temperatura ambiente, o que poderia ajudar a viabilizar aplicações em maiores escalas – bastaria uma estrutura (um cabo) que suportasse a pressão.

Eles descobriram mesmo?

Vale lembrar que uma reivindicação não é uma confirmação. A ciência é feita por pesquisas e refutações, e algo só pode ser validado após ser falseado.

Após a produção, e a escrita do artigo, inicialmente chamado de preprint, há a necessidade de uma revisão – a mais comum é a revisão por pares – depois é publicado e outros cientistas tentam trabalhar em cima, o que pode resultar na refutação ou confirmação.

Na época em que viralizou, havida sido publicado apenas como preprint, e ainda não tinha passado pela revisão por pares. Ele, no entanto, passou pela revisão e foi publicado mais tarde.

Alguns se animaram bastante, por exemplo como disse, na época, ao Science News o físico Alexander Goncharov, é “definitivamente um passo muito substancial à frente de pesquisas anteriores”.

As opiniões naturalmente se dividem, entretanto, já pelo fato de muitos insucessos. Um dos cientistas que adotou uma posição de ceticismo foi o Eugene Gregoryanz, da Universidade de Edimburgo, ao Science News também em 2019.

Em janeiro de 2020, eles publicaram novos resultados na revista Nature. Nesse novo trabalho eles trocaram o formato dos diamantes, e alguns novos equipamentos puderam medir mais dados.

Nos próximos meses, ou anos, esses novos dados poderão dar maior suporte à reivindicação, ou poderão também, ser refutados, como é natural na ciência.

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