Não sabemos com exatidão como os animais percebem o campo magnético, embora evidências coletadas durante décadas mostrem que todos os tipos de animais podem sentir campos magnéticos e até mesmo usá-los para navegar ao redor do planeta.
Essa habilidade misteriosa é chamada de magnetorecepção e é algo que ajuda os animais a fazerem migrações de longa distância, ou mesmo achar o caminho de casa.
Desse modo, também é um sentido aparente em várias espécies, sejam pássaros, cachorros e até peixes.
Quanto ao campo magnético humano, também temos essa capacidade de percepção, embora as evidências sobre esse assunto sejam escassas.
Consciência magnética
Mesmo em animais, as origens exatas dessa consciência magnética permanecem confusas e enigmáticas.
“A busca por um mecanismo foi proposta como uma das últimas grandes fronteiras da biologia sensorial”, explica o genomicista Robert Fitak, da University of Central Florida.
Em um novo estudo, Fitak e seus coautores revisaram as evidências para uma base potencial da magnetorecepção animal, embora a ideia proposta permaneça sendo hipotética.
As explicações mais estabelecidas de como os animais podem detectar campos magnéticos giram em torno de duas hipóteses centrais:
- um deles são os criptocromos, uma classe de proteínas que são sensíveis à luz e que ajudam alguns animais a ver os campos magnéticos;
- a outra hipótese é a magnetorecepção baseada na magnetita, na qual aglomerados de cristal de ferro nos corpos dos animais permitem que eles detectem campos magnéticos.
Bússola feita de micróbios
No entanto, mesmo com várias pesquisas, nenhumas dessas hipóteses foi inteiramente conclusiva. Fitak e os coautores deste estudo sugerem que existe outra possibilidade: uma bússola feita de micróbios.
De acordo com os pesquisadores, é possível que os animais detectem campos magnéticos simbioticamente por meio de bactérias que vivem dentro deles.
Especificamente, bactérias magnetotáticas que se orientam ao longo das linhas do campo magnético.
Isso acontece devido a uma cadeia de estruturas magnéticas dentro das bactérias magnetotáticas chamados de magnetossomos.
VEJA TAMBÉM: Cães podem farejar o novo coronavírus com precisão
Esse novo estudo é um complemento do estudo publicado em 2017 que aborda esses minúsculos micróbios magnéticos por trás da magnetorecepção em animais maiores e apresenta novas evidências para apoiar o caso.
Mais importante ainda, eles apontam para um estudo do ano passado que descobriu evidências discutíveis de simbiose mutualística entre bactérias magnetotáticas e protistas marinhos microscópicos, que podem navegar de forma diferente em ambientes aquáticos graças aos minúsculos passageiros magnéticos em seus corpos:
https://www.youtube.com/watch?time_continue=52&v=_c1Rj5t-mxs&feature=emb_title
Sensor magnético ainda é uma hipótese
Os pesquisadores chamam isso de “o primeiro suporte experimental conclusivo” que apoia a hipótese, embora suas próprias descobertas também possam fortalecer o caso.
A equipe descobriu examinando bancos de dados de informações genéticas sobre micróbios que as bactérias magnetotáticas, antes consideradas raras, são na verdade muito mais comuns no microbioma de animais do que imaginamos. Sua presença é que foi esquecida até o momento.
Ou seja, as bactérias magnetotáticas são onipresentes em ambientes aquáticos e anaeróbios e tem uma distribuição global, explicam os autores em seu artigo.
Dito isso, a equipe reconhece que nenhuma das evidências realmente comprova diretamente que esses micróbios minúsculos carregados de ímã que vivem dentro dos animais são o que dão a capacidade de navegar por meio de campos magnéticos.
Mas a descoberta relatada em Philosophical Transactions of the Royal Society B oferece argumentos cada vez mais convincentes à medida que a hipótese é investigada.