Em uma pesquisa recente, cientistas descobriram evidências de que Marte pode ter sido, no passado, coberto de gelo. Isso vai contra nossas hipóteses de que ele foi um paraíso para a existência de vida, como a Terra.
Marte é um dos locais onde mais procuramos por evidências de vida. Há mais de um século esse sonho surgiu, e há décadas uma das principais missões de grande parte dos rovers em Marte é procurar por evidências de vida.
A conclusão foi publicada em um artigo na revista Nature Geoscience, pelo trio formado por Anna Grau Galofre, A. Mark Jellinek, ambos da Universidade de British Columbia, no Canadá e Gordon R. Osinski da Universidade de Western Ontario.
Para chegar à conclusão de que Marte pode ter sido coberto de gelo, eles analisaram mais de 10 mil segmentos de vales no planeta vermelho. Eles foram inspirados pela Ilha Devon, no extremo-norte canadense, conforme o Space.com.
A Ilha Devon se localiza em uma região que já fica dentro do ártico, ou seja, do pólo norte. É considerada a ‘Marte terrestre’, e é utilizada até mesmo para treinamentos de astronautas e testes, por ser fria, seca e desértica, muito parecida com Marte.
Os pesquisadores afirmam que os vales em Marte podem ter sido formados de forma semelhante à formação dos vales na Ilha Devon, comparando com os 10 mil segmentos analisados, o que implicaria em uma cobertura de gelo no planeta.
Rios ou gelo?
“Nos últimos 40 anos, desde que os vales de Marte foram descobertos pela primeira vez, a suposição era de que rios já corriam em Marte, corroendo e originando todos esses vales”, diz Galofre em um comunicado.
Esses vales aos quais ela se refere são vales avistados por Giovanni Schiaparelli no final do século XIX. Ele pensou que fossem de origem geológica, causados por rios e canais.
Isso causou uma confusão em Percival Lowell, que pensou que a tradução da palavra italiana ‘canali’ fosse algum canal de origem humana. Ele passou a ser um defensor de que havia vida inteligente em Marte. Na segunda metade do século XIX descobrimos que Marte era, na verdade, deserto.
Interpretação errada?
As evidências, entretanto, ainda apontavam para a existência de canais e outros pontos que aproximam Marte de ter sido como a Terra. Agora, entretanto, eles propõem que esses canais foram causados por gelo, e não por água líquida.
“Mas existem centenas de vales em Marte, e eles parecem muito diferentes um do outro. Se você olha para a Terra a partir de um satélite, vê muitos vales”, conforme explica Galofre.
Sobre os vales, ela explica que “alguns deles [são] feitos por rios, outros feitos por geleiras, outros feitos por outros processos, e cada tipo tem uma forma distinta. Marte é semelhante, em que os vales parecem muito diferentes um do outro, sugerindo que muitos processos funcionavam para esculpi-los”.
Um dos processos é causado quando o gelo passa a derreter e a água passa a correr entre o gelo e o solo. Eles perceberam que 22 das 66 redes de vales parecem seguir o padrão dessa forma de erosão, e não por um rio correndo.
A pesquisa de Galofre e as suas ferramenta pode. ser útil para entender também a Terra. “O trabalho de Anna nos permitirá explorar o avanço e a retirada das calotas de gelo há pelo menos 35 milhões de anos atrás”, diz Jellinek.
O estudo foi publicado na Nature Geoscience. Com informações de Space.com e Eureka Alert.