Ascensão e Queda dos Dinossauros, de Steve Brusatte, entra no rol dos bons livros de divulgação da paleontologia na língua portuguesa. São poucos os afortunados a entrarem nesse rol, não por não haver bons livros, mas por haver poucas editoras dispostas a publicá-los. A editora Record, entretanto, não quer ser essa vilã, pois foi a responsável pela tradução dessa grande obra de divulgação científica para o público brasileiro. Obra que cativa do início ao fim.
Steve Brusatte, que é paleontólogo na Universidade de Edimburgo e especialista em evolução dos dinossauros, já descobriu dinossauros em diversos lugares do mundo, inclusive respondeu às perguntas desta entrevista quando recém havia voltado de outra pesquisa de campo no Novo México, Estados Unidos, e já colaborou com a nomeação de mais de quinze novas espécies.
Sua obra conta uma história ainda desconhecida por muitos, e muitos que acham que conhecem poderão descobrir que sabem muito pouco. É um livro que, como o subtítulo informa, quer contar “uma nova história de um mundo perdido”, uma história que estava somente na lente dos especialistas, e que audaciosamente ele traduziu para a língua que todo mundo entende.
ELISSON: A narrativa do livro é bastante cativante. O que o inspirou a escrevê-lo dessa forma?
STEVE: Eu queria escrever um livro que todos pudessem se deleitar, um livro que as pessoas pudessem entender mesmo que elas não tenham mais ouvido sobre ciência desde seus tempos de escola. A maioria dos livros são infantis ou acadêmicos. Mas eu tentei fazer algo diferente. Eu busquei que o estilo de storytelling, usando histórias pessoais, dos meus colegas e amigos fazendo escavações de dinossauros, ajudasse a trazer os dinossauros à vida. Mas, no fim, a história é sobre dinossauros. A história é deles. Da ascensão, do império e da queda deles.
ELISSON: No capítulo sete do seu livro [Ascensão e Queda dos Dinossauros], você falou acerca da sua experiência no Brasil com o paleontólogo Roberto Candeiro. Quais suas perspectivas desde então para o achado de fósseis no país?
STEVE: O Brasil é um dos lugares mais importantes do mundo para a pesquisa de dinossauros neste exato momento. É umas das novas fronteiras mais empolgantes. Na última década, muitos dinossauros foram descobertos no Brasil. Entre eles, estão incluídos alguns dos mais antigos e maiores dinossauros, e alguns dos últimos dinossauros que viveram após a queda do asteroide. Eu me diverti muito visitando o Brasil em 2016 para trabalhar com o meu amigo Roberto em Goiás. Eu vi de perto o motivo do Brasil ser um lugar empolgante para a pesquisa de dinossauros na atualidade. É porque há muitos estudantes, tanta gente nova, mulheres e homens, que estão estudando dinossauros, saindo e procurando por eles!
ELISSON: Você cita Walter Alvarez como seu herói científico, no livro. Por que ele é tão importante para a paleontologia?
STEVE: Walter Alvarez é um homem incrível. Como cientista, ele é inigualável. Ele foi o cara que determinou que um asteroide matou os dinossauros. Foi uma das descobertas científicas mais importantes do século 20. Mas ele é mais do que um grande cientista. Ele é, também, um cara bem legal. Eu o conheci quando tinha 15 anos. Eu liguei para o escritório dele para buscar informações sobre o sítio na Itália onde ele descobriu a impressão química deixada pelo asteroide (uma abundância do elemento irídio nas rochas com idades próximas ao fim do período do Cretáceo). Ele atendeu minha ligação e respondeu a vários e-mails também. Ele era uma dos cientistas mais famosos, e mesmo assim tirou um tempo para conversar com um adolescente a milhares de quilômetros de distância. Ele é admirável.
ELISSON: Onde estão as melhores localizações para encontrar fósseis de dinossauros? Poderíamos encontrá-los em nossos jardins?
STEVE: Atualmente, as pessoas estão encontrando dinossauros por todo o mundo. Na Antártica, no Círculo Polar Ártico do Alasca. Mas é provável que você não encontre dinossauros no seu jardim se você começar a escavar sem rumo. Isso porque fósseis de dinossauros são encontrados dentro de rochas. Você precisa ir a lugares onde há rochas do tipo e idade certas — como rochas formadas durante a Era Mesozoica, quando os dinossauros viveram, e formadas em rios, lagos e várzeas, ambientes terrestres que dinossauros teriam vivido dentro ou próximos.
ELISSON: De que forma a sociedade humana está afetando o achado de fósseis? As Mudanças Climáticas estão, de alguma forma, destruindo os fósseis sem que saibamos?
STEVE: Essa é uma pergunta interessante. Não sei se há uma resposta simples. Eu creio que o derretimento do gelo na Antártica esteja expondo mais fósseis de dinossauros para nós encontrarmos. Mas isso não é uma algo bom. Eu gostaria de ter o gelo ao invés dos fósseis. O clima está se alterando tão rápido atualmente. Espécies também estão se extinguindo rapidamente. Isso faz parecer que estamos no início de uma extinção em massa — que, se for o caso, esta seria a primeira extinção em massa desde que o asteroide aniquilou os dinossauros há 66 milhões de anos. É assustador, mas felizmente ainda há tempo para reverter. Os dinossauros não poderiam fazer nada para fazer com que o asteroide mudasse de direção, mas nós podemos fazer algo para interromper as mudanças climáticas.
ELISSON: Com o incêndio no Museu Nacional, a paleontologia perdeu uma grande coleção de achados raros, como fósseis de grandes dinossauros “brasileiros”, por exemplo. Como você e seus colegas acadêmicos reagiram a essa tragédia?
STEVE: Eu fiquei tão triste e em choque quando o Museu Nacional pegou fogo. Primeiro, pela grande quantidade de fósseis que ele tinha. Esses são alguns dos fósseis mais importantes do mundo. Em segundo, porque meu amigo Alex Kellner era o diretor do museu. Ele é um grande cientista, e passou sua carreira descobrindo e estudando fósseis, principalmente de pterossauros. Eu o respeito bastante. Deve ter sido difícil para ele ter visto seu museu queimando. Eu sinceramente espero que o governo esteja levando essa questão a sério. Eu sou grato que muitos fósseis tenham sido recuperados, e espero que isso nunca mais ocorra.
ELISSON: O que você diria para uma criança ou um entusiasta adulto brasileiros que queiram ser paleontólogos no Brasil?
STEVE: Seja! O Brasil é um grande país. Ainda há muitos fósseis de dinossauros e de outros animais a serem descobertos. Então vá para a rua e comece a procurar. Siga todas as leis, claro. E então, se quiser estudar paleontologia, há várias boas universidades que possuem o curso, como a do Roberto Candeiro em Goiás.
ELISSON: Para finalizar, no que você está trabalhando atualmente?
STEVE: Eu acabo de retornar de um trabalho de campo no Novo México, nos Estados Unidos. Comecei a trabalhar mais com mamíferos — os mamíferos que sobreviveram o impacto do asteroide que matou os dinossauros e prosperaram depois desse evento, tornando-se nos mamíferos atuais que dominam o mundo. Neste ano, encontramos muitos fósseis novos de mamíferos nas rochas que se formaram durante os primeiros milhões de anos após o asteroide. Há uma grande história esperando para ser contada… e eu a conterei também, já que pretendo escrever um livro sobre a evolução dos mamíferos!
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