Embora pareça solitária, a Lua divide espaço com os muitos satélites artificiais que são enviados ao espaço. Além disso, há um pequeno companheiro natural que orbitava ao redor da Terra muito antes do início das explorações espaciais. Este pequeno corpo celeste é conhecido como 3753 Cruithne.
O nome “Cruithne” é derivado do irlandês antigo e faz referência a um antigo povo irlandês e ao seu lendário rei, Cruidne. Ainda que Cruithne não seja um satélite da Terra no sentido clássico, como a Lua, ele é um asteroide que segue uma órbita peculiar ao redor do nosso planeta.
Desse modo, 3753 Cruithne é um exemplo fascinante de como o sistema solar está cheio de surpresas e objetos interessantes. Seu caminho orbital é bastante distinto e não segue uma trajetória circular simples que cria um padrão complexo quando visto da Terra.
Satélite quase-orbital da Terra
O pequeno mundo rochoso Cruithne, descoberto apenas em 1986, passou a ter sua órbita detalhadamente mapeada em 1997. Apesar de não ser uma lua no sentido tradicional, Cruithne é frequentemente descrito como um “satélite quase-orbital” da Terra. Isso significa que, embora não orbite diretamente ao redor do nosso planeta como a Lua faz, ele segue uma trajetória complexa que o faz parecer que está em uma espécie de dança gravitacional com o planeta.
Duncan Forgan, pesquisador da Universidade de St Andrews, na Escócia, explica que a órbita de Cruithne é bastante única. Ao invés de seguir uma trajetória simples, o asteroide segue uma órbita em torno do Sol que, de fato, interage de maneira complexa com a da Terra. Este padrão de movimento cria um relacionamento dinâmico e imprevisível entre os dois corpos celestes, dando a Cruithne um comportamento orbital que o torna um fascinante objeto de estudo para os astrônomos.
Assim, embora Cruithne não se encaixe na definição clássica de uma lua, sua presença e suas características orbitais oferecem uma visão intrigante sobre a diversidade de objetos que compartilham o espaço ao redor da Terra.
Órbita “ferradura”
Forgan esclarece que:
Cruithne não faz um loop em torno da Terra em uma bela elipse da mesma forma que a lua, ou mesmo os satélites artificiais que colocamos em órbita. Em vez disso, Cruithne corre em torno do sistema solar interno no que é chamado de órbita “ferradura”. Para ajudar a entender por que é chamada de órbita em ferradura, vamos imaginar que estamos olhando para o sistema solar, girando na mesma taxa que a Terra gira em torno do sol. Do nosso ponto de vista, a Terra parece estacionária. Um corpo em uma órbita simples em ferradura ao redor da Terra se move em direção a ela, então gira e se afasta. Uma vez que ele se moveu para tão longe que está se aproximando da Terra do outro lado, ele gira e se afasta novamente.
Órbitas de ferradura são na verdade bastante comuns para muitas luas no sistema solar; por exemplo, algumas das luas de Saturno seguem esse tipo de trajetória. O que torna o asteroide 3753 Cruithne particularmente interessante é o comportamento peculiar de sua órbita.
Em vez de seguir um caminho estático e previsível, Cruithne oscila e se balança de forma a criar um padrão irregular, que lembra um anel bagunçado ao redor da órbita da Terra. Esse movimento é tão amplo que, ocasionalmente, ele se aproxima da órbita de Vênus e Marte.
Licença poética
Cruithne completa o ciclo ao redor da Terra em um período de 770 anos. Seu período orbital ao redor do Sol é de aproximadamente 364 dias, o que faz com que pareça acompanhar a Terra em sua jornada espacial.
Por causa desse movimento, Cruithne foi poeticamente apelidado de “segunda lua” da Terra, embora essa denominação seja tecnicamente incorreta. A descoberta de Cruithne não sugere que nossas concepções sobre o sistema solar estavam equivocadas, mas sim que os cientistas continuam a aprender e a descobrir novas coisas.
Dessa forma, os pesquisadores acreditam que Cruithne, assim como outros objetos semelhantes, pode revelar informações sobre a natureza dinâmica do sistema solar e a formação dos planetas.