Veja como são feitas as reconstruções faciais

SoCientífica
Reconstrução da face da rainha Cleópatra. (Imagem: Sally-Ann Ashton)

Durante décadas, os pesquisadores criaram aproximações faciais de pessoas do passado, desde figuras históricas icônicas, como o rei Tut e o rei Henrique VII, até indivíduos comuns perdidos no tempo, como uma mulher sem nome da Idade da Pedra e um homem de Neandertal com um tumor no rosto.

Elaborar a reconstrução facial de pessoas que viveram há muito tempo é um processo complexo e fascinante, mas que pode exigir centenas de horas para ser concluído.

Através de técnicas meticulosas, os pesquisadores se esforçam para criar representações físicas de figuras históricas, icônicas e pessoas comuns, proporcionando uma janela única para o passado.

As reconstruções faciais são precisas?

Durante muito tempo, reconstruções faciais de figuras históricas e individuos comuns foram realizadas por pesquisadores. No entanto, questiona-se a precisão dessas representações.

Estudos indicam que elas tendem a ser bastante reconhecíveis, embora a precisão possa ser comprometida por danos nos crânios fósseis ou uso de dados tendenciosos. Apesar disso, o avanço das técnicas de remoção e análise de DNA está permitindo reconstruções cada vez mais precisas, incluindo a cor correta do cabelo, pele e olhos dos indivíduos retratados.

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Reconstrução do rosto de um neandertal em exibição no Museu Nacional de Antiguidades, na Holanda. Imagem: Bart Maat/AFP/Divulgação Estadão

Em um estudo publicado em 2006, uma equipe de pesquisadores do Face Lab usou as dimensões do crânio para aproximar os rostos de uma mulher e de um homem vivos e depois pediram a 52 voluntários que escolhessem o rosto real num grupo de cinco fotografias de pessoas do mesmo sexo, idade, ascendência e origem. A maioria dos voluntários combinou corretamente a face real com a reconstrução recém criada. 

Os dados do estudo revelaram que apesar de que o programa de reconstrução tendesse a subestimar a largura da boca e superestimar a espessura dos lábios e o comprimento nasal, ele capturou bem o formato geral do rosto. E um programa automatizado de reconhecimento facial identificou corretamente entre 77% e 83% dos pares de aproximação conhecida como correspondências. 

Como são feitas a reconstruções faciais?

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A evolução de uma reconstrução facial de “Juanita”, também conhecida como “Dama de gelo”. Imagem: Oscar Nilsson

A maioria das reconstruções faciais começa com um crânio. Em muitos casos, isso é tudo que os artistas têm.

Muitas vezes os crânios podem estar danificados, por isso, onde os fragmentos ósseos estão faltando ou danificados, a remontagem é necessária.

O passo seguinte é a interpretação dos detalhes cranianos para recriar a forma facial através da modelagem de tecidos moles aparentes, estimando a forma e o tamanho das características faciais e utilizando métodos desenvolvidos ao longo de um século de colaboração científica e artística.

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Imagem: Face Lab, Universidade John Moores de Liverpool

Os aspectos superficiais do rosto, aqui referidos como “textura”, são interpretativos. O cor dos olhos e cabelos, o tom de pele, rugas, cicatrizes e outras marcas, e alguns aspectos da orelha não podem ser previstos com segurança somente a partir do crânio. Esses detalhes são necessários para a criação de um rosto plausível. É aí que entram as analisas de DNA.

A fenotipagem genética está avançando nesse aspecto, embora esteja rodeada de controvérsias significativas.

Depois, o próximo passo é utilizar dados dados extraídos de bancos de dados globais contendo exames de pessoas vivas (geralmente chamados de doadores). Essas informações ajudam a determinar características como o posicionamento e a espessura dos músculos faciais, da gordura e da pele de uma pessoa. Essa pesquisa pode ser restringida na base de dados para incluir apenas doadores que tenham características semelhantes às da pessoa que terá sua face recontruída, como sexo, idade e etnia. Isso garante que os recursos sejam mais semelhantes.

Cientistas reconstroem face de "vampiro" do século 19
Cientistas recriam face de “vampiro” do século 19 por meio de DNA. Imagem: Parabon Nanolabs, Virginia Commonwealth University

Aprimorar os detalhes individualizados – um espaço entre os dentes superiores, orelhas salientes, nariz torto ou olhos assimétricos – aumenta as chances de uma reconstrução bem-sucedida.

Com estes dados em mãos, os pesquisadores podem então transferir as medidas para estacas de madeira utilizando argila para começar a construir as camadas musculares e de tecidos que formam a base do rosto da pessoa que terá o rosto reconstruído, como nariz, olhos e boca. Essa técnica de reconstrução dos músculos da face, camada por camada, é chamada de Método Americano e é uma das formas mais populares de reconstrução usada por artistas forenses. E o passo final é adicionar cores e textura à pele, olhos e cabelos.

O futuro das reconstruções faciais

Com o passar do tempoestão surgindo novas ferramentas que aumentam a precisão das reconstruções faciais, permitindo prever detalhes como cor do cabelo, dos olhos, da pele e até características como calvície e bolsas nos olhos com base no DNA.

Além disso, o DNA pode indicar detalhes muito espessificos, como a largura e formato do nariz, textura do cabelo e até a espessura da barba.

Sem barba
Imagem: Face Lab, Universidade John Moores de Liverpool

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