A extinção de uma espécie, no sentido biológico, ocorre quando o último animal de determinada espécie finalmente morre. Contudo, um estudo, publicado na Trends in Ecology & Evolution, sugere que a extinção pode acontecer uma segunda vez. A esse fenômeno, dão o nome de extinção social.
Os pesquisadores do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford definem o termo como sendo a perda da nossa atenção e memória coletiva em relação a uma espécie. As espécies poderiam desaparecer das nossas sociedades, culturas e discussões ao mesmo tempo, ou até mesmo antes do momento em que são biologicamente extintas por consequência de diferentes ações humanas.
Como ocorre a extinção social
Fatores em torno do simbolismo cultural da espécie chamam atenção. O grupo interdisciplinar e internacional de cientistas também citaram o carisma, o tempo que passou desde a extinção da espécie, e o quão distante ou isolada ela está dos humanos. Esses pontos trariam à tona a extinção social, apagando as memórias que temos das espécies extintas.
A extinção social afeta as percepções que temos do ambiente, dificultando os objetivos de restauração e conservação, além de diminuir o apoio para esses esforços. Além disso, os autores apontam que a crise global na biodiversidade inclui a perda de experiências com a natureza. Assim como, o esquecimento gradual de conhecimentos culturais e memórias coletivas das espécies.
Segundo os cientistas, a extinção social está ligada à extinção biológica, e tem um papel importante nas políticas de conservação. Uma das consequências, por exemplo, é a perda da herança cultural de um povo.
Estudos sobre a extinção social
Estudos realizados no sudoeste da China e com indígenas da Bolívia demonstraram a perda de conhecimento local e memórias de espécies extintas de aves.
No Brasil, o Projeto Ararinha da Natureza, ligado à reintrodução da arara-azul na natureza, também apontou algo interessante. Num relatório feito em 2013, 242 crianças foram entrevistadas sobre o habitat natural da ave. Quase todas acreditavam que a arara-azul era do Rio de Janeiro, devido ao filme Rio, lançado em 2011.
O doutor Uri Roll, coautor do estudo e pesquisador da Universidade Bem-Gurion do Negev, acrescentou sobre o assunto: “As espécies também põem permanecer coletivamente conhecidas depois que são extintas, ou se tornarem ainda mais populares”.
“Contudo, nossa percepção e memória dessas espécies gradualmente se transforma, e com frequência se tornam imprecisas, estilizadas ou simplificadas, e desassociadas da espécie de fato”, disse ele.
Outro pesquisador, e autor líder do estudo, doutor Ivan Jaric, do Centro de Biologia da Academia Tcheca de Ciências, enfatizou:
“É importante notar que a maioria das espécies na verdade não podem ser extintas socialmente, simplesmente porque nunca tiveram uma presença social para começar. Isso é comum com espécies pouco carismáticas, pequenas, enigmáticas ou inacessíveis, especialmente dentre invertebrados, plantas, fungos e microrganismos”.
Percepções e observações
Um dos exemplos apresentados é o das plantas medicinais. Muitas delas estão prestes a serem socialmente extintas, ainda que continuem presentes na natureza. Isso porque substituímos essas plantas com alternativas mais modernas, perdendo nosso conhecimento sobre elas no processo.
Os pesquisadores também encontraram diversos links entre extinção social e falta de apoio para conservação da biodiversidade. “Manter a percepção das espécies e as ameaças em torno delas também traz consequências cognitivas e emocionais para os indivíduos”, escreveram. “Resolver esses problemas precisarão de abordagens multidisciplinares, que vão além da ecologia e conservação biológica”.