Um asteroide próximo a Marte pode ser um “irmão perdido” da Lua

Felipe Miranda
(Pixabay).

Um asteroide (101429) 1998 VF31 pertence ao grupo dos asteroides troianos de Marte, um grupo de asteroides localizados próximo ao planeta, dividindo sua órbita em torno do Sol. Surpreendentemente, novos detalhes de dados coletados levam os cientistas a acreditar que o asteroide possa ser um “irmão perdido” da Lua muito tempo atrás.

Um grupo internacional de astrônomos liderados por cientistas do Observatório e Planetário Armagh (AOP), localizado na Irlanda do Norte resolveu olhar para o asteroide. Conforme descrito em um estudo no periódico Icarus, editado pela Elsevier, a composição do asteroide é bastante parecida com a composição da Lua.

Um material muito parecido formou os corpos rochosos do Sistema Solar, como a Terra, a Lua e Marte. No entanto, com o tempo cada corpo de “especiou”. As dinâmicas climáticas e atmosféricas, portanto, mudam cada um. Mas a Lua teve um período de atividade muito curto, então não mudou muito, assim como um asteroide.

Nesse caso, (101429) 1998 VF31 seria um “pedaço de entulho” restante da formação dos corpos rochosos do sistema solar interior.

Os Trojans

Alguns dos planetas no sistema solar possuem seus trojans (ou troianos). Esses asteroides orbitam o Sol na mesma linha da órbita do planeta, como um “grupo de ovelhas”. A Terra também, por exemplo, possivelmente possui seus Trojans. Eles se localizam nos pontos de Lagrange do planeta, embora só tenhamos confirmado um deles o  2010 TK7. Ironicamente é mais fácil localizar Trojans de Júpiter e Marte do que da Terra. Os astrônomos estudam, então, ao longo dos últimos tempos, os Trojans de Marte. Um dos motivos é encontrar formas de procurar os Trojans da Terra.

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A imagem representa o (101429) 1998 VF31 como o ponto azul do ponto L5. (Armagh Observatory and Planetarium).

Os astrônomos utilizaram o Very Large Telescope, do ESO (sigla em inglês para Observatório Europeu do Sul), localizado no Chile. No Very Large Telescope há um espectrógrafo chamado X-SHOOTER. Com ele a equipe analisou a composição do asteroide. Um espectrógrafo analisa as assinaturas luminosas dos objetos. Como cada material reflete a luz de uma forma diferente, sabemos a composição. 

A ideia era entender se a composição dos Trojans de Marte é como a dos planetas rochosos ou se é mais parecida com os objetos além de Júpiter. Uma pedra espacial ou um objeto rico em carbono e água, como diversos outros asteroides do sistema solar externo?

É um “irmão perdido” da Lua?

Todavia, eles descobriram que o (101429) 1998 VF31 não se parece com seus companheiros. Os Trojans que localizam-se no ponto L5 são da família Eureka – todos com uma composição semelhante. Apenas o nosso amigo possível “irmão perdido” que se diferencia.

“Muitos dos espectros que temos para asteróides não são muito diferentes da Lua, mas quando você olha de perto, há diferenças importantes, por exemplo, a forma e profundidade de ampla absorção espectral em comprimentos de onda de 1 e 2 mícrons”, diz o Dr. Galin Borisov, da AOP, em um comunicado. “No entanto, o espectro deste asteróide em particular parece ser quase uma cópia para partes da Lua onde há leito rochoso exposto, como interiores de crateras e montanhas”.

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Comparação das espectrografias da Lua e do “irmão perdido”. (CHRISTOU, A. et al).

Mas isso não prova, é claro, que (101429) 1998 VF31. Afinal, a ciência trabalha, inicialmente, com evidências. Ele pode, simplesmente, ter adquirido essas características pela exposição à radiação solar. Se ele foi exposto ao Sol da mesma forma que a Lua, é normal que até certo ponto ele se pareça com o satélite natural.

Mas claro que pode ter saído de uma colisão de outro objeto com a Lua. “Um fragmento de tal colisão poderia ter alcançado a órbita de Marte quando o planeta ainda estava se formando e estava preso em suas nuvens de Tróia”, diz Dr. Christou, autor principal do estudo. Ele explica que há, também, a possibilidade de ser um objeto arrancado da formação de Marte mesmo. 

O estudo foi publicado no periódico Icarus. Com informações de Science Alert e Armagh Observatory and Planetarium

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