Tardígrados podem estar vivendo na Lua sozinhos, afirmam cientistas

Giovane Sampaio
Diane Nelson, uma pesquisadora dos tardígrados, que trabalha no Great Smoky Mountains National Park, usou um microscópio de varredura para caputar esta imagem tridimensional de um Tardígrado. (Crédito: NPS / Diane Nelson)

Quando a sonda Beresheet, criada por Israel, falhou sua aterrissagem no terreno desértico da Lua nos meados de 2019, os cientistas acharam que haviam perdido tudo, mas segundo uma nova análise, a carga útil de seres vivos enviados até lá para experimentos podem ter sobrevivido. O ser vivo em questão é o mais resistente da terra: o tardígrado.

Esses animais vem fascinando cientistas desde os primórdios de sua descoberta, no século 18. São extremamente pequenos, mas quase indestrutíveis em quesito de sobrevivência. São verdadeiras dádivas da evolução das espécies.

Eles são encontrados em topos de montanhas, em desertos escaldantes e em lagos subglaciais na Antártida. Em experiências, já sobreviveram a congelamentos em hélio líquido e a cozimentos em 149 graus Celsius.

Conforme Ian Sample relata para o The Guardian, o segredo do tardígrado é a capacidade de se murchar numa cápsula semelhante a uma semente, expelindo quase toda a sua água e cortando o seu metabolismo. Neste estado de “tun”, os animais podem se acalmar e sobreviver a condições que normalmente seriam rapidamente fatais. Em 2007, cientistas descobriram que os tardígrados inativos são tão resistentes que podem sobreviver à dura radiação e ao vácuo frígido das viagens espaciais.

A sonda Beresheet foi construída pela organização israelense sem fins lucrativos SpaceIL, que começou a trabalhar nesta missão em 2011. Era para ser o primeiro módulo de aterragem privado a pousar na lua. Mas os planos não saíram como planejado. A aterrissagem foi prejudicada pela falta de comunicação entre os equipamentos terrestres e a sonda. Toda a tecnologia se perdeu, mas ficou um pingo de esperança quando se lembraram que nela também estavam os seres mais indestrutíveis da Terra.

O grupo por trás da viagem dos tardígrados disse que os organismos podem muito bem ter sobrevivido à colisão. “Nossa carga útil pode ser a única coisa sobrevivente dessa missão”, disse Nova Spivack, fundador da organização Arch Mission Foundation, à revista Wired.

Antes dessa missão, os astronautas que estiveram na Lua nas missões Apollo deixaram seus micróbios em seus dejetos, um tipo de vida que certamente não conseguiu sobreviver à radiação e à falta de elementos básicos para a sobrevivência. Com os tardígrados, porém, a história pode ser outra, mas ainda se precisa de mais estudos para se chegar à conclusão de que esses pequenos seres vivos de fato vão ficar vivos por algum tempo lá.

Os estudos realizados até então demonstram que sim, é possível eles sobreviverem em estado “tun”, mas em estado natural, como vivem geralmente aqui na Terra, podem morrer facilmente. Uma resposta mais objetiva poderia vir de uma missão ao local da queda da sonda Beresheet, mas talvez esse seja privilégio somente das futuras gerações.

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