Superfície da Lua tem oxigênio suficiente para bilhões de pessoas por 100 mil anos

Jônatas Ribeiro
Imagem: NASA

A humanidade sempre teve uma relação próxima com a Lua. Ela foi representada por diferentes deuses e entidades em diferentes culturas. Está também relacionada às nossas marcações de tempo, no caso da duração do mês. Até hoje, inclusive, o astro influencia crenças populares relacionadas ao humor e até mesmo ao corte de cabelo. Contudo, por um lado mais científico e material, também teve um papel fundamental da evolução de nossa espécie e de nossas civilizações. Isso porque as diferentes fases da Lua influenciavam, por exemplo, períodos de caça, colheita e pesca nos povoados. No caso da caça, isso se explica pela claridade maior em noites de lua cheia. Já no caso da pesca, pelo efeito da gravitação lunar nas marés. No caso da colheita, porém, a questão é mais controversa em termos de evidências científicas.

Toda a curiosidade humana em relação ao mais brilhante astro da noite, aliás, nos levou a imaginar também como seria caminhar por lá. Em 1865, Júlio Verne escrevia “Da Terra à Lua”, seu clássico em que descrevia a primeira viagem de nossa espécie ao território lunar. Como de costume nas obras de Verne, aliás, foram registradas até mesmo algumas coincidências entre seu livro e a missão Apollo 11. Pouco depois, H.G. Wells, um dos patriarcas da ficção científica, descrevia em seu “Os Primeiros Homens na Lua” uma hipotética visita de cientistas a uma fictícia civilização lunar. Além disso, a exploração da Lua esteve presente até mesmo nos primeiros passos do cinema, com “Viagem à Lua”, de George Meliès.

Dito isso, se sonhamos por tanto tempo com pisar na Lua como fazemos na Terra, e até chegamos lá, quais seriam as semelhanças entre nosso satélite natural e nosso planeta? Será que a Lua, por exemplo, teria oxigênio como temos em nossa atmosfera?

pegada na lua
Imagem: NASA

No solo ou na atmosfera?

Para a maioria dos efeitos práticos, a Lua, na verdade, não tem atmosfera. Há maior presença de átomos e moléculas ali do que no meio interplanetário. Ainda assim, é desprezível se comparada à atmosfera terrestre e a outros planetas do Sistema Solar. Pode, portanto, ser considerada como vácuo. Porém, se quisermos uma informação mais precisa, até pode ser considerado que há atmosfera em nosso satélite. Afinal, há gases lá. Só que, no caso, em sua maioria, são incomuns para o envoltório gasoso da Terra, como argônio, neônio e potássio. Para nós, que evoluímos com uma mistura principalmente composta de oxigênio e nitrogênio, o ambiente não é muito propício para sobreviver.

Já o oxigênio é reservado para outra parte da Lua: o solo. Mas não na forma mais conhecida por nós, a gasosa. O oxigênio lunar é, em. sua grande maioria, sólido. E é aprisionado no regolito presente no território do satélite. Isto é, a camada de poeira e vestígios de matéria depositada no solo de lá. Mas isso é menos surpreendente do que parece. Isso porque o mesmo ocorre em nossos minerais, muitos dos quais estão presentes na Lua também. Materiais como silício, magnésio, ferro e magnésio vieram à Lua por meio do impacto de meteoritos. O solo lunar é bem diferente do nosso, é verdade. Afinal, aqui temos organismos vivos o modificando constantemente. Na Lua, o que há é o material original. Ou seja, o regolito.

Oxigênio na Lua

eletrólise
Imagem: Wikimedia Commons

O regolito lunar tem 45% de sua composição feita de oxigênio. Poderíamos logo pensar, então, em utilizar todo esse potencial do solo lunar. Contudo, ele está fragmentado nos minerais. A solução é separá-lo do resto do material, por meio de eletrólise. Ou seja, passar corrente elétrica por uma substância para causar reações de oxirredução. No caso de processos assim feitos por aqui, o oxigênio costuma ser o subproduto. Lá, seria o produto principal. Contudo, para realizar o feito, é preciso converter os óxidos metálicos sólidos em líquidos. E isso requer bastante energia. E, portanto, todo um aparato de geração e aproveitamento de energia sendo movido para a Lua.

Isso, porém, não é um futuro tão distante. A empresa belga Space Applications Services anunciou a construção de três reatores para aprimorar o processo de eletrólise. E os planos são otimistas. Eles pretendem enviar o equipamento até 2025 em parceria com a Agência Espacial Europeia (ESA). Para termos uma ideia melhor do que isso pode significar, podemos assumir que extraímos apenas o oxigênio dos regolitos mais acessível na superfície, como a até 10 metros de profundidade. Se a extração é bem-sucedida, com alta eficiência, o suprimento seria suficiente para manter 8 bilhões de pessoas vivas por 100 mil anos.

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