Subestimamos o quanto falta para descobrirmos a vida alienígena?

Felipe Miranda
Imagem: Pixabay

Há poucos anos, a mídia enlouqueceu ao cobrir (de maneira muitas vezes sensacionalista) a possibilidade da descoberta da vida em Vênus. A possibilidade foi levantada após uma aparente detecção de fosfina nas nuvens de Vênus. A fosfina é uma forte assinatura de vida, pois só é produzida por seres vivos e, raramente, por ações geológicas. No entanto, pouco tempo após o anúncio, a hipótese foi refutada.

De tempos em tempos, alguma descoberta ou evidência científica alimenta os debates em torno da possibilidade de descoberta da vida extraterreste. E com descoberta da vida extraterreste, não nos referimos a alienígenas em naves espaciais, mas a pequenos seres possivelmente microscópico — seres simples que, embora necessitem de um ambiente especial, se contentem com um pouco menos do que nós.

Bom, a vida surgiu na Terra de uma maneira. Pode ser que em outros planetas ela não tenha a mesma base que possui aqui: o carbono. E bom, para a ciência, seria completamente incrível descobrir que não estamos sozinhos no universo — mesmo que sejam apenas formas simples de vida.

“Pode ser que qualquer teoria que descobrimos para explicar a vida possa similarmente ter uma base contraintuitiva e levar a ideias ainda mais revolucionárias sobre como nosso universo funciona — afinal, a vida é muito mais complexa do que a gravitação”, disse ao Daily Galaxy Sara Walker, astrobióloga e vice-diretora do Centro Beyond de Conceitos Fundamentais em Ciência da Universidade Estadual do Arizona.

“Mas, neste momento, estamos sem teoria para guiar nossa busca por vida alienígena. Sem tal teoria, mesmo a escala de tempo de 100 anos para a descoberta da onda gravitacional pode estar subestimando o quão longe estamos da descoberta de vida alienígena, se é que ela está de fato lá fora”, diz a pesquisadora.

Temos que pensar que a vida não vem de um único lugar em uma única linha evolutiva, mas pode convergir de diversas origens em diversas linhas evolutivas diferentes. Diferentes formações podem se fundir. Por exemplo, nos primórdios da vida, bactérias criaram uma relação simbiótica com células. Essa relação tornou-se tão importante que a bactéria se tornou uma organela presente nas células eucariontes: as mitocôndrias. Além disso, estudos sugerem uma relação dos vírus com a evolução das células mais complexas.

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As mitocôndrias apresentam grandes semelhanças com as bactérias. (Imagem: LadyofHats / Wikimedia Commons).

A vida surgiu na Terra de várias maneiras diferentes em vários pontos diferentes, e isso convergiu para algo parecido; todos os seres vivos do planeta possuem algo em comum. Mas a questão é: se a vida surgiu em vários pontos diferentes da Terra ao mesmo tempo, pode ter surgido em outros locais do universo.

“Nossa perspectiva é que, uma vez que você faça a mudança para identificar a vida como um conjunto de princípios, ela pode de repente parecer mais comum no universo”, diz Chris Kempes ao portal. “Isso poderia ser uma biosfera sombria, mas também poderia ser exemplos muito mais familiares, como a evolução da cultura humana ou simulações complexas de computador”.

E bom, há uma certa fórmula para criar algo vivo, conforme já demonstrou o famosíssimo experimento de Miller — alguns ingredientes específicos e calor.

“Os materiais subjacentes da vida, ou as condições planetárias que dão origem a ela, podem ser bastante diversos, mas as propriedades compartilhadas da vida no nível dos princípios podem ser altamente conservadas em todo o universo. A vida converge ao nível dos princípios”, completa Kempes.

Mas ainda estamos longe de achar alguma regra que de fato torne essa receita um padrão facilmente encontrado. Encontramos locais potencialmente habitáveis, mas nunca localizamos vida neles.

“Se a vida é um fenômeno universal explicado por leis físicas ainda não identificadas, devemos procurar entendê-las em tantos contextos quanto possível. A ideia de múltiplas origens da vida torna-se crítica para esse empreendimento porque nos permite ver mais claramente a física universal da vida, de uma maneira que não é possível se nos concentrarmos apenas em suas origens na química”, diz Walker.

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