Cientistas encontram sinais de Alzheimer em golfinhos encalhados

Mateus Marchetto
Imagem: PublicDomainImages via Pixabay

A doença de Alzheimer é o transtorno neurodegenerativo mais comum em pessoas com idade avançada. No entanto, golfinhos – que são mamíferos aquáticos aparentados dos seres humanos – também podem, aparentemente, desenvolver a doença. Pesquisadores agora descobriram que esse pode ser um motivo importante para casos de golfinhos encalhados.

Apesar da doença de Alzheimer ser exclusivamente humana, é possível que animais – especialmente mamíferos – tenham suas próprias doenças de Alzheimer espécie-específicas. Entretanto, isso ainda não foi completamente verificado cientificamente.

Acontece que agora pesquisadores descobriram sinais de Alzheimer em diversas espécies de golfinhos. Ou seja, a equipe de especialistas conseguiu identificar biomarcadores característicos da doença humana, só que em golfinhos. A pesquisa analisou os cérebros de 22 golfinhos encalhados, e os resultados foram publicados no periódico European Journal of Neuroscience.

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Imagem: Ildigo via Pixabay 

Em 3 dos 22 animais, diversos marcadores para o Alzheimer foram encontrados em conjunto (discutiremos o que são esses marcadores mais à frente). Esses três animais pertenciam a três diferentes espécies de odontocetos, ou baleias dentadas: baleia-piloto-de-barbatana-longa (Globicephala melas), golfinho-de-bico-branco (Lagenorhynchus albirostris) e os comuns golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus).

Examinando os sinais de Alzheimer

Biomarcadores são moléculas ou sinais fisiológicos que indicam uma certa condição. Assim, certas proteínas ou mesmo células podem indicar uma tendência de um animal desenvolver algo parecido com o Alzheimer humano. Isso porque muitos sinais de Alzheimer são conhecidos em humanos, apesar da origem ainda ser incerta.

Assim, os biomarcadores analisados pela pesquisa foram os seguintes: placas amilóide-beta, proteína tau-fosforilada e gliose.

As placas da proteína amilóide-beta se formam pela degradação dessa proteína, que acaba por consequência se acumulando no tecido cerebral. Esse acumulo de placas proteicas leva à morte de neurônios e, em última instância, contribui para a doença de Alzheimer.

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Imagem: joakant via Pixabay 

Para o caso da proteína tau, o mecanismo é bastante semelhante. Emaranhados da proteína acabam se degradando no cérebro e evitando a comunicação entre neurônios. Isso leva, mais uma vez, à morte das células nervosas.

Por fim, a gliose é uma alteração da composição da matéria branca do sistema nervoso (matéria composta principalmente por axônios).

O conjunto destes três sinais foi encontrado nos três golfinhos supracitados, e um quarto animal apresentava dois sinais, com exceção das placas amilóide-beta.

A descoberta é particularmente importante pois golfinhos são animais sociais e, segundo os autores, golfinhos com problemas neurodegenerativos podem possivelmente sobreviver mais com o auxílio do bando.

Ainda, a confusão espacial e perda de memória são sinais comuns da doença de Alzheimer em humanos. Portanto, golfinhos acometidos pelo mesmo problema podem estar mais propensos a encalhamentos e separação do grupo social.

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