Na era da biometria, quase tudo está acessível a um toque, literalmente. Prometendo, entre diversos recursos, aumentar a segurança no uso de aparelhos eletrônicos. Desse modo, as impressões digitais, antes vistas apenas como uma característica única do ser humano, estão agora se tornando um recurso amplamente utilizado em diversas áreas da vida moderna.
Elas são empregadas como um dispositivo de entrada onipresente, desempenhando um papel essencial em verificações de antecedentes, segurança em viagens e até mesmo em sistemas avançados de abertura de portas de carros sem o uso de chaves. No entanto, essa assinatura biométrica exclusiva, formada por uma complexa rede de sulcos e cristas, não é infalível.
Com o tempo, as impressões digitais podem desbotar, desgastar-se temporariamente ou até mesmo desaparecer por completo devido a fatores como o envelhecimento, exposição a substâncias químicas ou traumas repetitivos na pele.
Esse fenômeno, que está se tornando cada vez mais comum, revela o quão vulneráveis podemos ser ao perder essa forma de identificação, o que pode resultar em consequências frustrantes e até mesmo angustiantes para quem depende desse método para acessar serviços essenciais ou garantir sua segurança.
Microtrauma
Segundo Roger N. Haber, professor assistente de dermatologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Illinois em Chicago, que estuda a perda de impressões digitais, a vida moderna apresenta uma quantidade crescente de “microtrauma” — desgaste repetido nas pontas dos dedos, o que possivelmente contribui para uma maior perda de impressões digitais.
Esse microtrauma pode ser causado por atividades como jogos ou digitação, onde a pressão repetitiva sobre as mesmas áreas das mãos contribui para o desgaste da pele. Contudo, segundo Haber, o verdadeiro problema está na dermatite irritativa, resultante do contato frequente com produtos químicos presentes em plásticos e outras substâncias que tocamos regularmente.
Indivíduos que atuam na área da saúde, por exemplo, enfrentam desafios adicionais, pois lavam as mãos com frequência e utilizam sabão e outros produtos químicos, o que pode agravar o desgaste das impressões digitais.
Geralmente, as impressões digitais reaparecem após alguns meses, mas se a causa subjacente não for tratada, a perda pode se tornar uma condição prolongada, adverte Haber. “Trata-se de uma condição subdiagnosticada”, afirma ele.
Uma “sociedade melhor”
Simon A. Cole, um professor da UC Irvine, que escreveu sobre a descoberta das impressões digitais como um identificador único em seu livro de 2002 Suspect Identities, observa que, no início do século XX, havia um certo idealismo em torno do uso crescente da biometria, especialmente das impressões digitais, com a esperança de que isso marcaria o início de uma sociedade mais justa e segura.
Acreditava-se que a adoção generalizada das impressões digitais ajudaria a reduzir fraudes, promover maior confiança nas transações financeiras e fortalecer a confiança mútua entre as pessoas, pois as impressões digitais de todos estariam registradas em bancos de dados governamentais. “Nas décadas de 1930 e 1940, os escoteiros, como parte de seu dever cívico, coletavam impressões digitais de pessoas na rua”, ele relembra.
Múltiplos fatores biométricos
Langenburg, um cientista forense, acredita que as dificuldades relacionadas às impressões digitais não serão resolvidas tão cedo. Ele antevê que, no futuro, será cada vez mais comum a utilização de vários fatores biométricos em conjunto para mitigar possíveis falhas nas impressões digitais. Por exemplo, uma combinação de escaneamento de retina, reconhecimento facial e impressão digital poderia ser usada para aumentar a precisão na identificação.
Para aqueles que já enfrentam desafios com suas impressões digitais, como trabalhadores da construção civil ou escaladores, Langenburg sugere algumas medidas que podem facilitar a leitura das digitais. Ele recomenda manter as mãos hidratadas e usar gel higienizador ou loção antes de passar pelo scanner.
Nos EUA, profissionais responsáveis por coletar impressões digitais aplicam “bálsamo de úbere”, um produto geralmente utilizado em vacas, para deixar os dedos levemente pegajosos, o que melhora a captura das impressões digitais.