Em julho de 1971, os Estados Unidos lançaram uma operação delicada para trazer de volta à Terra um importante pacote de dados de um satélite altamente secreto. O plano envolvia a ejeção de uma cápsula sobre o Oceano Pacífico, mas, em uma reviravolta crítica, os paraquedas que deveriam suavizar sua descida falharam.
Sem essa proteção, a cápsula despencou violentamente, atingindo a água com uma força colossal de 2.600 Gs, o que fez afundar rapidamente até cerca de 5.000 metros de profundidade.
Esse fato desencadeou uma das mais complexas missões de recuperação do incidente submarino da história americana. Sob a liderança da Marinha dos Estados Unidos e do National Reconnaissance Office (NRO), o objetivo era recuperar o equipamento de espionagem mais avançado da época: o satélite KH-9 Hexagon, que armazenava milhares de imagens ultra-secretas.
Essa corrida contra o tempo não era apenas técnica, mas também política, já que o governo americano buscava evitar que o conteúdo caísse nas mãos da União Soviética, em pleno contexto da Guerra Fria.
Uma maravilha da engenharia
Agora que as informações sobre o satélite espião americano, o Hexagon, foram desclassificadas, podemos entender melhor a complexidade e a inovação dele, que representava um feito impressionante da engenharia.
Desenvolvido em uma época anterior ao advento do processamento digital de imagens, o Hexagon, com dimensões comparáveis a um ônibus escolar e carinhosamente apelidado de “big bird”, funcionava essencialmente como uma câmera de filme em órbita.
Equipado com vários compartimentos de recuperação, conhecidos como “baldes”, o Hexagon era capaz de capturar imagens através de uma câmera panorâmica, o que fornecia um nível impressionate de detalhamento e um posicionamento global avançado para a coleta de dados.
Durante o período da Guerra Fria, a função principal do satélite espião americano era realizar vigilância extensiva. Entre 1971 e 1986, o satélite realizou 19 missões, cobrindo uma área impressionante de 877 milhões de milhas quadradas da superfície terrestre, incluindo a vasta extensão da antiga União Soviética. Para se ter uma ideia do alcance, a área total da Terra é de aproximadamente 197 milhões de milhas quadradas.
Desafios para recuperar o satélite espião americano
O mergulho inesperado do satélite Hexagon representava uma situação delicada, pois não apenas uma parte vital da inteligência dos Estados Unidos estava exposta ao risco de ser danificado pela água salgada e pelos sedimentos marinhos, como sua recuperação poderia chamar a atenção dos espiões soviéticos.
A tarefa de localizar exatamente onde a cápsula havia caído seria um desafio específico. Além disso, o fato de nunca antes ter sido realizada uma operação de resgate em profundezas tão extremas tornou o sucesso da missão algo puramente teórico.
Trieste II
Na década de 1960, o Trieste II se destacou como o submersível mais avançado da Marinha dos Estados Unidos para missões em grandes profundidades, capaz de mergulhar até os pontos mais profundos do oceano, como o Challenger Deep na Fossa das Marianas.
Sua descida e subida foram controladas ajustando a flutuabilidade, e ele foi projetado para suportar as imensas pressões da profundidade. Um dos desafios da época envolveu a recuperação de destroços do satélite espião americano, e a equipe responsável encontrou condições difíceis, incluindo mau tempo e limitações técnicas.
A operação de resgate, realizada em 1971, envolveu várias tentativas, inicialmente com o uso de redes, que falharam. Em seguida, foi utilizado um dispositivo semelhante a uma garra gigante para capturar os destroços.
Contudo, as condições climáticas pioraram, exigindo que as importações fossem adiadas por meses. Finalmente, em abril de 1972, após uma descida longa e delicada, os destroços foram localizados. O Trieste II conseguiu trazer uma superfície grande parte do material do satélite espião americano, embora alguns filmes tenham se deteriorado no processo.
Mesmo com os danos sofridos, os Estados Unidos consideraram a missão um sucesso, tanto pela recuperação dos segredos quanto pela superação das dificuldades. A equipe recebeu reconhecimento oficial, e o Trieste II continuou suas atividades até ser aposentado em 1984.
Hoje, o submersível faz parte de uma exposição em um museu naval, simbolizando uma das operações mais ousadas da história da exploração em águas profundas.