A perda da biodiversidade afeta os humanos de maneira muito mais definitiva do que costumamos imaginar, até porque também fazemos parte da natureza. Muitas vezes nos dissociamos do meio ambiente, mas também somos animais. Segundo a WWF (World Wide Fund for Nature), nós utilizamos, hoje, 25% dos recursos naturais que o planeta Terra pode nos fornecer. No entanto, esse uso da natureza não está ocorrendo de maneira ecologicamente sustentável, e desde a Revolução Industrial, o ser humano acelerou a maneira como explora a natureza, enquanto a denigre.
O que é a biodiversidade?
Antes de caminhar no assunto sobre como a perda da biodiversidade afeta os humanos, precisamos entender melhor o que é, exatamente, a biodiversidade.
Em resumo, o termo biodiversidade descreve a riqueza da natureza, toda a variedade que temos em nossa disposição. Dentro de cada ambiente há formas de vidas. Até mesmo nos desertos, onde não enxergamos praticamente nada, há uma grande biodiversidade — como uma rica fauna de microrganismos no solo e no subsolo.
A forma como as relações naturais ocorrem na Terra, para mantê-la como a conhecemos hoje, necessita de tal biodiversidade. Por exemplo, as algas marinhas, essenciais para o ciclo do carbono, produzem o oxigênio que respiramos (as florestas consomem quase todo o oxigênio que liberam). Os microrganismos realizam a decomposição de material orgânico, que é absorvido pelas plantas e volta para os animais, quando consomem essas plantas. As abelhas são essenciais para a fecundação das plantas. Ha incontáveis relações, sejam predatórias, sejam simbióticas, essenciais para a manutenção do meio ambiente.
A biodiversidade é a maior prova da diversidade genética do planeta. Saímos todos de um organismo em comum e hoje há incontáveis espécies animais na biosfera – superfície, atmosfera, subsolo e oceanos. Há milhões de espécies ainda desconhecidas pela humanidade. Estima-se que há entre 10 e 50 milhões de espécies no planeta, mas só há 1,5 milhão de espécies catalogadas.
O Brasil é um local especialmente especial. A redundância nessas duas palavras foi necessária. 20% de todas as espécies conhecidas no mundo estão no Brasil.
Como a perda da biodiversidade afeta os humanos?
Em 1997, um estudo publicado na revista Nature estimou que os bens e serviços fornecidos pela natureza podem ser traduzidos, em valores monetários, a 33 trilhões de dólares por ano – isso em valores de 1997; se corrigirmos esses valores pela inflação, o valor é muito maior. Para se ter ideia, o PIB global para a época era de 18 trilhões ao ano, praticamente metade do valor estimado dos serviços fornecidos pela natureza.
O estudo utilizou como parâmetro, 17 serviços em 16 ecossistemas. São os serviços: a regulação atmosférica; a regulação do clima; a regulação de distúrbios climáticos; a regulação da água; o suprimento de água; o controle de erosão e sedimentação; a formação do solo; o ciclo dos nutrientes; o tratamento desses nutrientes; a polinização; o controle biológico; os habitats; a produção de alimento; a matéria prima; os recursos genéticos; o lazer e a recreação e a cultura.
Cada um desses 17 itens listados acima trabalha na regulação do planeta de maneira essencial. Sem a água, não há vida, não há alimento, não há industrialização, não há nada. Sem a formação e a proteção do solo, não há florestas e nem agricultura. Sem nutrientes, não há alimento para a manutenção da vida. Sem a polinização, não há plantas, que são a base da cadeia alimentar. Sem habitats, não há moradia para as diferentes espécies. Sem o lazer a cultura, não somos humanos.
Um estudo publicado em 2014 na revista Science estima que a perda atual da biodiversidade ocorre mil vezes mais rápido do que se os habitats não estivessem tão degradados. Ou seja, a própria extinção natural se acelerou devido a degradação do meio ambiente. A perda da biodiversidade afeta os humanos também, e isso é uma questão econômica e social. É questão de segurança alimentar.