Rochas de Marte estão atingindo a Terra, e há algo estranho com suas idades

Elisson Amboni
A maioria esmagadora dos meteoritos provenientes de Marte são do tipo shergotito. No entanto, a tarefa de determinar a idade dessas rochas tem se mostrado desafiadora.

Detritos de Marte têm feito uma longa jornada pelo Sistema Solar até colidir com a Terra. Esses fragmentos marcianos, trazidos diretamente até nós, oferecem insights valiosos sobre nosso vizinho planetário.

Estudos recentes dessas pedras espaciais, principalmente dos shergottitos ricos em metal, trazem à luz uma descoberta intrigante. Ao contrário do que a paisagem repleta de crateras de Marte pode sugerir, essas rochas não são tão antigas.

As primeiras análises desses shergottitos indicaram que eles são relativamente jovens, com menos de 200 milhões de anos. Essa descoberta criou um enigma, pois contrasta com a suposta idade antiga da superfície marciana.

Esse descompasso, chamado paradoxo da idade dos shergottitos, tem sido um grande desafio para os cientistas.

“Esses meteoritos são lançados de Marte por impactos massivos, criando grandes crateras. As melhores pistas que temos para identificar de onde eles vieram em Marte é por sua idade”, disse o vulcanologista Ben Cohen, da Universidade de Glasgow, que liderou a pesquisa publicada na revista Earth and Planetary Science Letters.

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Cientistas utilizam a quantidade de crateras de impacto presentes na superfície de Marte como uma forma de estimar a idade das rochas. Imagem: NASA/JPL-Caltech

A equipe abordou esse problema refinando a técnica de datação argônio-argônio, que mede a decomposição do potássio radioativo em argônio para determinar a idade.

Ajustando para contaminação de argônio da Terra e do espaço, a equipe de Cohen conseguiu corroborar seus resultados de datação argônio-argônio com outros métodos, confirmando que muitas rochas marcianas que atingem a Terra são de fato bastante jovens, datando entre 161 e 540 milhões de anos.

A idade jovem dessas rochas pode ser devido à superfície dinâmica de Marte, frequentemente interrompida por impactos que revelam novas camadas de rocha vulcânica.

“O bombardeio frequente que Marte sofre pode estar revirando a superfície antiga, expondo material mais novo que é ejetado para o espaço”, Cohen explica.

Os resultados sugerem que a atividade vulcânica ainda pode estar moldando Marte, com novos impactos ocorrendo com frequência suficiente para ocasionalmente enviar rochas mais jovens em direção ao nosso planeta.

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