Resíduos radioativos de Chernobyl estão aquecendo e ninguém sabe o motivo

Mateus Marchetto

No dia 26 de abril de 1986, ocorreu o acidente nuclear mais famoso e mais severo da história. Devido a um conjunto de fatores, incluindo falhas humanas e equipamentos obsoletos, o reator 4 de Chernobyl derreteu juntamente ao combustível e os invólucros do módulo. Todo esse material radioativo virou uma lava que escorreu para os porões da usina, onde esta foi selada com diversas camadas de aço e concreto.

Todavia, cientistas ucranianos estão registrando um aumento no número de prótons no reator 4. O problema, ademais, é que os motivos desse pico de prótons ainda é um mistério. Após a criação do novo sarcófago para o reator, em 2016, a emissão de prótons continuou estável e até mesmo diminuiu. No entanto, houve o registro desse aumento de partículas radioativas que, segundo especialistas, não representa nenhum risco próximo ao do acidente original de Chernobyl.

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Imagem: Денис Резник/ Pixabay 

Pesquisadores suspeitam que a penetração de água no sarcófago anterior – que estava danificado – pode ser o motivo do aumento dos prótons. Nesse sentido, a suspeita é que a água diminua a velocidade dos prótons, fazendo eles atingirem outros núcleos de urânio. Esses núcleos, por sua vez, vão se dividir e emitir ainda mais prótons.

Como dá para imaginar, essa colisão de tantas moléculas pode gerar uma reação em cadeia e até mesmo gerar uma nova explosão na usina.

Quantidade de material radioativo em Chernobyl

Logo após o acidente de Chernobyl, bombeiros, policias e mesmo civis empregaram forças para selar o reator. Helicópteros soltaram toneladas de areia em cima da usina, buscando apagar o fogo radioativo e conter a emissão de radiação. Contudo, a areia derreteu, junto com tudo que estava em volta, formando um material super radioativo que se solidificou nos andares subterrâneos de Chernobyl.

Essa mistura de areia e componentes derretidos contabiliza em torno de 170 toneladas de todo o material. De toda essa radioatividade, apenas 5% se degradou ao longo desses 35 anos.

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Imagem: Wendelin Jacober/Pixabay

Ainda nos anos 80, autoridades encomendaram uma estrutura para cobrir a usina de Chernobyl e supostamente selar o reator. Contudo, ao longo dos anos a cobertura apresentou rachaduras e defeitos que permitiram a penetração da água causando, possivelmente, o efeito citado acima.

Assim, as autoridades responsáveis cogitam enviar um robô para dentro da instalação para colocar barras de boro no meio da lava solidificada. Esse material poderá, teoricamente, reduzir as colisões entre prótons e núcleos de urânio para frear qualquer reação em cadeia.

O artigo está disponível no periódico Science.

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