Você está andando pela rua ouvindo aquela música que você gosta. Enquanto anda, percebe que está se movendo de acordo com a batida da música, no mesmo tempo, no mesmo compasso. Agora, cientistas perceberam que não somos apenas nós, humanos, que fazemos isso. Aparentemente, os ratos também sincronizam seus movimentos de acordo com a música.
A descoberta foi publicada no início de novembro na revista Science Advances. O estudo demonstrou haver uma sincronização inata dos ratos com as músicas tocadas com batidas entre 120 e 140 BPM. Essa é a mesma frequência que nós, humanos, reagimos.
“A percepção de batida e a sincronização dentro de 120 a 140 batidas/min (BPM) são comuns em humanos e frequentemente usadas na composição musical”, diz o abstrato do estudo. “Uma inspeção minuciosa dos movimentos da cabeça e gravações neurais revelou que os ratos exibiram sincronização de batidas proeminentes e atividades no córtex auditivo dentro de 120 a 140 BPM”.
Vale ressaltar, no entanto, que os ratos não estão dançando.
“A música tem um poder muito especial e atraente para o cérebro. E minha motivação é revelar o porquê”, disse em um programa da NPR o pesquisador Hirokazu Takahashi, líder da pesquisa.
No programa, o apresentador Ari Shapiro, questiona: “Aniruddh Patel, da Universidade Tufts, não esteve envolvida no trabalho. Ele diz que isso ajuda a estreitar o debate sobre por que os animais se sincronizam com certos tempos. É o tamanho do corpo ou algo mais universal embutido em nossos cérebros?”.
“Alguns animais são muito menores e, portanto, têm ritmos corporais mais rápidos. Tipo, eles andam mais rápido e seus batimentos cardíacos são mais rápidos. E então você pode pensar, oh, eles vão gostar de ritmos mais rápidos. Mas este estudo diz, não, não é assim que realmente se desenrola. E isso talvez sugira que há algumas coisas fundamentais sobre o ritmo que são compartilhadas entre espécies muito diferentes”, explica Patel.
Por que isso ocorre?
“A música exerce um forte apelo ao cérebro e tem efeitos profundos sobre a emoção e a cognição. Para utilizar a música de forma eficaz, precisamos revelar o mecanismo neural subjacente a esse fato empírico”, disse Takahashi ao Phys.org. “Eu também sou um especialista em eletrofisiologia, que está preocupado com a atividade elétrica no cérebro, e tenho estudado o córtex auditivo de ratos por muitos anos”.
Os pesquisadores equiparam os ratos com pequenos acelerômetros sem fio. Dessa maneira, quaisquer movimentos realizados eram detectados pelos cientistas. Então, eles reproduziram músicas em diversas velocidades diferentes a fim de analisar o comportamento deles em cada uma delas.
“Depois de conduzir nossa pesquisa com 20 participantes humanos e 10 ratos, nossos resultados sugerem que o ritmo ideal para a sincronização de batidas depende da constante de tempo no cérebro. Isso demonstra que o cérebro animal pode ser útil para elucidar os mecanismos perceptivos da música”. Takahashi.
Para o estudo, os pesquisadores utilizaram diversas músicas diferentes, como Sonata para Dois Pianos em Ré Maior de Mozart, que foi tocada em quatro tempos diferentes, Born this Way, da Lady Gaga, Another One Bites the Dust, do Queen e Beat It, de Michael Jackson.
“Em seguida, gostaria de revelar como outras propriedades musicais, como melodia e harmonia, se relacionam com a dinâmica do cérebro. Também estou interessado em como, por que e quais mecanismos do cérebro criam campos culturais humanos, como belas artes, música, ciência, tecnologia e religião”, diz Takahashi.
Ainda ao Phys.org, o líder do estudo diz que acredita que essa questão é uma das chaves que podem ajudar no desenvolvimento da inteligência artificial. “Além disso, como engenheiro, estou interessado no uso da música para uma vida feliz”, completa.