Se a Terra é nosso lar, o Sistema Solar é a nossa vizinhança. Em órbita ao redor do Sol, estamos entre os planetas rochosos, isto é, Mercúrio, Vênus e Marte. Mas também estamos próximos (em comparação a estrelas que não sejam o próprio Sol) dos planetas gasosos, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Há também, claro, os planetas anões, como Plutão e Ceres, e as luas que orbitam os grandes planetas. E somados a todos esses, os principais corpos, estão os corpos menores, como asteroides e cometas. Ou seja, estamos bastante acompanhados em nosso sistema estelar.
Na verdade, contudo, estarmos tão bem acompanhados não é uma característica tão comum para um planeta. Há cerca de 810 sistemas planetários com três ou mais planetas. Apenas um sistema, porém, tem tantos planetas quanto o Sistema Solar (Kepler-90), segundo a Extrasolar Planets Encyclopaedia. É claro, isso pode decorrer de uma limitação instrumental. Afinal, pode haver planetas menores escondidos entre os visíveis. Entretanto, é uma boa pista de que talvez nosso sistema esteja próximo do limite possível de planetas orbitando uma estrela.
Criando um novo Sistema Solar
E como podemos descobrir qual é esse limite de planetas? Sabemos que a estrutura de um sistema planetário depende de muitos fatores, como os tamanhos da estrela e dos planetas e se os planetas são rochosos ou gasosos. Também depende da direção das órbitas dos planetas e o número de luas que os orbitam. Além da localização de corpos menores como asteroides e cometas e o material interestelar que restou da nuvem primordial que originou o sistema. A história do Sistema Solar também envolveu inúmeras colisões e equilíbrios e desequilíbrios gravitacionais. Logo, assim deve ser para outros sistemas também.
Vamos imaginar, contudo, que várias das limitações para a existência de muitos planetas possam ser superadas, como se existisse matéria ilimitada para a formação de corpos a partir da nuvem primordial. Podemos eliminar também, por hora, luas e corpos menores que possam causar pequenas interações gravitacionais. Ao adicionar planetas ao redor de uma estrela, devemos nos atentar para o raio de Hill. Isto é, a distância que corresponde ao limite da região em que a gravidade do planeta influencia significativamente o que está ao seu redor. E quanto maior o planeta, maior será também o raio de Hill. Ou seja, para maximizar o número de planetas, devemos tornar cada um deles o menor possível.
![planetas colidindo](https://socientifica.com.br/wp-content/uploads/2022/02/DsZD4LFctjP6AyyRuQY6RV-970-80.jpg)
Outro truque para reduzir a influência gravitacional entre planetas se dá por órbitas em sentidos contrários. Isso não ocorre no Sistema Solar, devido à origem comum dos planetas a partir de um disco em rotação formado da nuvem primordial. Contudo, seria possível nesse Sistema Solar inventado. Nele, poderia haver um planeta orbitando o Sol em sentido horário, e seu vizinho, em sentido anti-horário. A consequência é que ambos interagiriam por menos tempo do que como ocorre na realidade, podendo, assim, ter órbitas mais próximas uma da outra.
Mais e mais planetas
Há ainda possibilidade de uma curiosidade teórica, ainda não verificada. É a existência dos planetas troianos. Isto é, planetas agrupados compartilhando a mesma órbita. São assim chamados em função dos asteroides troianos, aglomerados de asteroides próximos a Júpiter que orbitam o Sol junto ao planeta. E o assunto não só está em discussão, como um estudo de 2010 publicado na Celestial Mechanics and Dynamical Astronomy já calculou um total de 42 possíveis planetas na mesma órbita. A estabilidade desse sistema, contudo, dependeria de todos os planetas terem o mesmo (pequeno) tamanho e terem se formado ao mesmo tempo. Ou seja, é bem improvável.
De qualquer forma, o astrônomo Sean Raymond, do Bordeaux Astrophysics Laboratory na França, decidiu tentar usar todas essas informações em uma simulação, cujos resultados foram publicados em seu blog. O trabalho não é extremamente sério, não tendo sido os resultados revisados e publicados em periódicos, mas geraram conclusões bastante interessantes. O tamanho de seu Sistema Solar simulado é de 1000 unidades astronômicas (UA), isto é, 1000 vezes a distância média da Terra ao Sol. Os planetas, por sua vez, têm o mesmo tamanho (o da Terra) e se espalham por órbitas em sentidos alternados conforme se distanciam do Sol. Considerando também a presença de planetas troianos em cada órbita, Raymond chegou ao número de 57 órbitas com 42 planetas cada. Ou seja, 2394 planetas no total.
![sistema solar expandido](https://socientifica.com.br/wp-content/uploads/2022/02/AG79DeNBRf9Wvgoe5reCsC-970-80.jpg)
Ainda, utilizando planetas do tamanho de Marte, seriam 121 órbitas com 89 planetas cada, isto é, 10769 planetas. Ou, com planetas do tamanho da Lua, 341 órbitas com 193 planetas cada, o que nos dá um total de 65813 planetas. Os números são extremos, claro, e não representam sistemas plausíveis. Mas o divertido experimento atiça a curiosidade e nos faz pensar que pode haver muito mais nos sistemas solares do que sabemos.