Como seria se a Terra compartilhasse a órbita com outro planeta?

Felipe Miranda
(Needpix).

Os asteroides troianos compartilham as suas órbitas no entorno do Sol com os planetas. Já falamos aqui sobre os asteroides troianos de Marte, de Júpiter, e os possíveis troianos da Terra. No entanto, os asteroides localizam-se nos pontos de Lagrange (pontos gravitacionalmente estáveis), a 60° dos planetas. Mas com outro planeta é diferente, pois falamos de uma escala maior. O que ocorreria se a Terra compartilhasse a órbita com outro planeta?

Bom, no início da existência do sistema solar, possivelmente alguns planetas por aqui compartilhavam suas órbitas. No entanto, destruíram-se ao chocar um com o outro. Mas, no momento, refiro-me a planetas estáveis. Vamos utilizar exemplos práticos. Em um primeiro momento, olhemos para Epimetheus e Janus, duas luas de Saturno

As órbitas delas são, em suma, loucas. Imagine dois corpos orbitando traçados quase coincidentes em tempos semelhantes, onde em algum momentos as órbitas se invertem. Se o corpo A está na órbita interna e o corpo B está na órbita externa, em algum anos isso se inverte, e o corpo A passará para a órbita externa; logo, o corpo B, para a interna.

Exemplos

É difícil colocar em palavras, mas a imagem abaixo ilustra:

epijan
(Emily Lakdawalla, 2006).

Isso é o que chamamos de órbita em ferradura. Dependendo de como você olhar, há uma ilusão, e o movimento se parece ainda mais louco. Nesse caso, as órbitas de parecem assim:

Epimetheus Janus Orbit
(Wikimedia Commons).

Mas isso é como uma ilusão, claro. Na verdade, o movimento ocorre como no gif abaixo, e isso desenha as ferraduras. Ali, considera-se um dos corpos parados, ou quase parados. Os dois giram em torno do Sol (ou de Saturno, no caso de Epimetheus e Janus), pois assim permanecem estáveis.

The bean shaped orbit of Earths second moon 3753 Cruithne Imgur
(Reprodução).

Mas as órbitas de Epimetheus e Janus são muito mais próximas do que a Terra e o asteroide 3753 Cruithne. Dessa forma, as órbitas se parecem assim:

Note que nesse tempo as outras luas giram muito rapidamente. Isso porque as duas luas estão desaceleradas, para enxergamos a movimentação em ferradura – e isso também poderia ocorrer, pelo menos em teoria, com dois planetas orbitando o Sol. Epimetheus e Janus se aproximam muito – 15.000 km, ou 20 vezes mais próximo do que a distância média entre a Terra e a Lua. Mas eles ainda mantêm a estabilidade.

“Acho que as órbitas em ferradura estão entre as configurações mais interessantes para outras Terras”, disse o astrofísico Sean Raymond ao portal Live Science. “Uma vez que os dois planetas se formaram no mesmo disco em torno da mesma estrela, e provavelmente de coisas semelhantes, estudar sua evolução é semelhante a estudar a vida de gêmeos separados no nascimento”. 

Um companheiro da Terra

Se Terra compartilhasse a órbita com outro planeta, haveria uma vista linda. “Seria incrível ver o companheiro em forma de ferradura crescer no céu e se tornar uma fonte dominante de luz”, diz Raymond. Os dois planetas se afastariam e se aproximariam em um determinado intervalo, então veríamos um brilho e um tamanho muito mais inconstante do que vemos na Lua.

O tempo entre cada encontro dependeria muito da velocidade das órbitas e das larguras de ferraduras. Para a Terra se estabilizar com um companheiro de tamanho semelhante, as órbitas em ferradura se estenderiam, conforme Raymond, entre aproximadamente 0,995 UA e 1,005 UA (1 UA é a distância entre a Terra e o Sol). Nesse caso, o pico das aproximações ocorreria a cada 33 anos – seria um evento e tanto. 

Os dois planetas orbitando a mesma distância até o Sol, significaria que ambos recebem quantidades parecidas de luz. A proximidade também indicaria composições semelhantes. Imagine que ambos desenvolvessem a vida inteligente. Quando elas evoluíssem a ponto de sair do planeta se encontrariam. O que será, então, que ocorreria? Amizades ou guerras? O seres dos dois planetas se pareceriam?

Com informações de Live Science e Forbes.

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