Gelo em Encélado indica que a lua de Saturno ainda está bastante viva

Felipe Miranda
Imagens em infravermelho de Encélado. (Créditos da imagem: NASA/JPL-Caltech/University of Arizona/LPG/CNRS/University of Nantes/Space Science Institute).

Já falamos aqui na SoCientífica sobre os quatro mundos mais promissores para a vida no sistema solar. Entre eles está Encélado, uma das luas de Saturno. Agora, cientistas publicaram novas observações, extremamente detalhadas, do gelo em Encélado.

O gelo, combinado à atividade geológica é bastante importante. Isso porque o gelo indica a presença de água, e a atividade geológica é capaz de derreter e aquecer a água.

Aqui na Terra, a vida surgiu em fontes hidrotermais. Portanto, por diversas características, algo semelhante poderia se repetir em Encélado. A possibilidade da vida é um dos pontos que mais fascinam os cientistas, embora ainda existam outras questões.

Segurança interplanetária

A sonda Cassini, da NASA, fez as imagens mais detalhadas de Saturno e suas luas até hoje, durante os quase 20 anos que operou. O fim da missão foi um triste “suicídio” na atmosfera de Saturno, em 2017.

A sonda foi violentamente destruída para não haver o risco de contaminar as luas de Saturno, principalmente Encélado. A NASA tomou esse cuidado porque Encélado é potencialmente habitável por microrganismos.

Dois pontos decorrem desse fato: as sondas que precisam pousar em um planeta passam por um processo de desinfecção muito mais severo. A partir disso, temos o segundo ponto.

Se uma sonda não foi preparada para pousar, e acaba pousando, além de colocar os seres que vivem ali em risco, pode plantar a semente da vida, levada da Terra. No futuro, portanto, poderíamos pensar erroneamente que a vida se originou por ali.

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Análises do gelo em Encélado

Agora, mais recentemente, cientistas utilizaram os ricos dados da Cassini, coletados durante 13 anos, para construir modelos da distribuição do gelo pelo hemisfério norte de Encélado.

Para isso, eles utilizaram um equipamento chamado Visible and Infrared Mapping Spectrometer (VIMS), ou Espectrômetro de Mapeamento Visível e Infravermelho, no português.

Como o próprio nome diz, ele coleta dados espectrográficos. Em outras palavras, ele coleta a frequência da luz refletida pelas superfícies. Com esses dados, portanto, é possível criar mapas detalhados, com os materiais e a morfologia local.

Os cientistas descrevem o trabalho em um estudo publicado no periódico Icarus, e liderado por Rozenn Robidel, do Laboratório de Planetologia e Geodinâmica da Université de Nantes, na França.

Em 2005, os cientistas descobriram, com a Cassini, que Encélado atirava ao ar flocos de gelo e vapor. Esse material provém de um oceano abaixo da superfície da lua gelada.

O novo mapa espectral, recém construído, trás novidades. Os cientistas descobriram que essa dinâmica se correlaciona diretamente com a atividade geológica do hemisfério sul.

Entretanto, ao que se sabia, a atividade geológica era exclusiva do hemisfério sul. Agora, os cientistas perceberam que uma atividade geológica ao norte também está se iniciando. E isso é muito bom, pois um planeta ou lua ativa possibilita a existência de vida.

“O infravermelho nos mostra que a superfície do pólo sul é jovem, o que não é surpresa porque sabíamos dos jatos que lançam material gelado ali”, explica em  um comunicado o cientista Gabriel Tobie, co-autor do estudo. 

“Agora, graças a esses olhos infravermelhos, você pode voltar no tempo e dizer que uma grande região no hemisfério norte também parece jovem e provavelmente estava ativa não há muito tempo, em linhas de tempo geológicas”, diz.

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